MAIS UM LIVRO DE GEORGES PEREC
“A Vida, modo de usar” — a obra fundamental de Georges Perec – foi traduzida por mim e publicada em 1991 pela Companhia de Letras, de S. Paulo. O livro esgotou-se em pouco tempo, mas levou dezoito anos para ser reeditado, o que só ocorreu em 2009, pela mesma Companhia das Letras, mas dessa vez em formato de bolso.
Em 2005, traduzi para a Cosac & Naify duas curtas novelas de Perec, “A Coleção Particular” e “Viagem de Inverno”, obras que, escritas no final da vida do autor, oferecem excelente abertura para o seu labirinto literário, pois nelas se observa a inventiva transbordante de Perec, que povoa os relatos de incontáveis seres e coisas. Além disso, há que destacar sua escrita minudente e ardilosa, que solicita a cumplicidade do leitor ao mesmo tempo que desnorteia sua bússola.
Surge agora pela Gustavo Gili, uma editora de Barcelona com filial no Brasil, essa “Tentativa de esgotamento de um local parisiense”, claro exemplar da fase oulipiana do autor, que em outubro de 1974 se instalou por três dias seguidos na praça Saint-Suplice, em Paris, com o fim de observar os seus detalhes. Em diversos momentos desses dias anotou tudo o que via: os acontecimento cotidianos da rua, as pessoas, os veículos, os animais, as nuvens, o passar do tempo. Fez listas de tudo o que ocorria, mesmo dos fatos mais insignificantes da vida cotidiana, mas nada ou quase nada de conclusivo. Entretanto, sua visão de uma percepção humana única, vibrante, impressionista e variável, recolheu os mil detalhes imperceptíveis que compõem a vida de um bairro determinado de uma grande cidade: as incontáveis e sutis variações do clima atmosférico, da luz, dos cenários, de tudo o que está vivo: “tudo aquilo que acontece quando não acontece nada”.
Leia mais sobre Perec:
Georges Perec, um Proust da sucata, aqui.
***
CHAMO A ATENÇÃO DOS LEITORES PARA A POSTAGEM ANTERIOR EM QUE FORAM PRESTADAS HOMENAGENS A SHAKESPEARE E A CERVANTES PELO QUARTO CENTENÁRIO DE SUAS MORTES, OCORRIDAS AMBAS EM 23 DE ABRIL DE 1616.
NÃO DEIXEM DE LER O MONÓLOGO DE HAMLET – O FAMOSO TO BE OR NOT TO BE – SER OU NÃO SER — QUE CONSIDERO UMA DAS MINHAS MELHORES TRADUÇÕES. INB
Deixe um comentário