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Archive for maio \25\-03:00 2016

TRADUZIDOS POR IVO BARROSO

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EU OUÇO A AMÉRICA CANTANDO

WALT WHITMAN (1819-1892)

Ouço a América cantando, os variados cânticos que eu ouço,

O dos mecânicos, cada qual cantando o seu como devia ser alegre e forte

O carpinteiro cantando enquanto mede a prancha ou a viga

O pedreiro cantando o seu quando vai ao trabalho ou volta dele,

O barqueiro cantando o que é seu em seu barco, o grumete cantando no convés dos vapores,

O sapateiro cantando ao sentar-se na banqueta, o chapeleiro ao levantar-se

A canção do lenhador, a do camponês saindo de manhã, ou na pausa da tarde ou quando o sol se põe,

O adorável cantar da mãe, ou da jovem esposa no trabalho, ou da moça lavando roupa ou na costura,

Cada qual cantando o que lhe diz respeito e nada mais.

Ao dia o que pertence ao dia – à noite a algazarra dos jovens, vigorosa e afável

Cantando a viva voz suas fortes canções melodiosas.

 

EU TAMBÉM CANTO A AMÉRICA

LANGSTON HUGUES (1902-1967)

langston

Eu, também, canto a América

Sou aquele irmão de cor

Que mandam comer na cozinha

Quando chegam visitas

Mas eu rio

E como bem

E cresço forte

Amanhã

Estarei à mesa

Quando as visitas chegarem.

E ninguém ousará

Me dizer

“Vá comer na cozinha,”

Então.

Além disso

Verão o quanto eu sou bonito

E ficarão envergonhados –

Eu, também, sou América.

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(mais uma historinha só para divertir)

confessa

Seu Carlino era viúvo, não tinha filhos e criava galinhas no pequeno quintal, onde havia um casebre que a mãe, ao morrer, lhe deixara. Religioso de coração e alma, não saía da igreja, e confessava pelo menos uma vez por dia. Monsenhor, o vigário, não cansava de dizer: “Ó Carlino, isto não é pecado.Vai cuidar de suas galinhas!” Elas eram sua fonte de renda, pois, com a venda de ovos e, de quando em quando, de uns frangos da ninhada, é que o pobre ia levando a vida.

Num domingo, resolveu abrir-se no confessionário: “Seu Padre, vou me suicidar!” e, ante o espanto do vigário, se justificava: “Estou velho e só penso em morrer para entrar no paraíso e estar à direita de Deus Padre!  Sou um homem de bem, não tenho pecados e decerto irei para o céu”.

Seu Padre advertia: “Não seja louco, homem. A religião é contrária ao suicídio. Se você se matar, vai é para o inferno. Tira isso da cabeça e reze vinte ave-marias por penitência deste grave pecado”.

Carlino se resignava, mas a ideia não lhe saía da cabeça: trocar a existência inútil que levava para usufruir a bem-aventurança da vida eterna. Tudo se resolveria com um acidente, uma facada no peito ou um trago de veneno. Deus não podia ser injusto com ele, estava cansado da vida, queria o descanso dos céus. Certamente a religião estava errada em não admitir o suicídio.

Um dia, decidiu-se: “Seu Padre, vai ser hoje. Olha aqui: até já comprei a lata de formicida: uma boa dose e logo estarei na presença de Deus”!

Monsenhor tentou arrancar-lhe da mão a lata do veneno. Como Carlino resistisse, o padre teve um arroubo de fúria e lhe gritou:

“Seu Carlino, não seja idiota. Não vê que essa história de céu não existe, que a gente morre e acabou?! Que tudo não passa de uma invenção da Igreja para manter a fé? Reino de Deus, vida eterna, recompensa dos céus, tudo isto é bobagem, patranha para iludir os crentes. Depois da formicida o que virá é a cova rasa e a podridão. Larga essa lata!”

Carlino estava estarrecido. Nunca ouvira tal imprecação da boca de Monsenhor, que em suas prédicas dominicais, sempre exaltava a glória do Senhor, a ressurreição da carne, a vida eterna, amém. Diante da expressão firme e dura do padre, ainda titubeou: “O senhor está falando sério? É tudo mentira?” “Tudo, tudo. Se vivo dizendo o contrário é que sei que não existe o Inferno para onde eu iria por ter jurando em falso”.

Carlino entregou a lata ao padre, olhando para ele profundamente consternado: o homem devia estar fora de si, que Deus o perdoe!  E saiu da igreja cabisbaixo, atarantado.  Na dúvida, foi tratar de suas galinhas.

Monsenhor, refeito da convulsão, olhou para o altar: “Perdão, Senhor! Mas foi a única maneira de salvar a vida desse miserável”!

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poe

Esta é uma homenagem especial ao Dia das Mães. O grande poeta norte-americano, EDGAR ALLAN POE (1809-1849), dedicou este soneto a Maria Clemm (1790-1871), mãe de sua esposa, Virginia. Além de sogra do poeta, Maria Clemm era também sua tia, sendo pois Virginia sua prima. Maria Poe era irmã do pai do poeta, David Poe Jr. e passou a chamar-se Clemm após seu casamento com William Clemm Jr. em 1817, de quem teve três filhos, sendo Virginia Eliza a última. Maria tratava Poe como a um filho, e este a chamava de “Muddy”. Depois da morte de Virginia em 1847, aos 25 anos, foi Maria Clemm quem assistiu o poeta em seus momentos de desespero, embriaguez e miséria. Após a morte deste em 1849, a Sra. Clemm ficou sem qualquer fonte de renda, tendo daí para  frente, até sua morte num asilo de caridade em 1871, vivido de doações que lhe eram feitas pelos escritores Henry Longfellow (1807-1882), americano, e Charles Dickens (1812-1870), inglês. Apresentamos aqui o belo soneto de Poe no original e na criativa tradução de Milton Amado, autor também da melhor tradução de “O Corvo”, de Poe, em português.

virginia-maria

TO MY MOTHER

Because I feel that, in the Heavens above,
The angels, whispering to one another,
Can find, among their burning terms of love,
None so devotional as that of “Mother,”
Therefore by that dear name I long have called you-
You who are more than mother unto me,
And fill my heart of hearts, where Death installed you
In setting my Virginia’s spirit free.
My mother- my own mother, who died early,
Was but the mother of myself; but you
Are mother to the one I loved so dearly,
And thus are dearer than the mother I knew
By that infinity with which my wife
Was dearer to my soul than its soul-life.

***

Porque os anjos (bem sei!) na celestial altura,

Quando falam de amor entre si, meigamente,

Não podem encontrar uma expressão mais pura

Que a de “Mãe”, nem mais linda, ungida e comovente,

Eu, de há muito, te dou este nome perfeito,

Pois tu és, para mim, mais do que mãe, por certo,

Desde que a morte veio instalar-se em meu peito,

Ao tornar, de Virgínia, o espírito liberto.

A minha própria mãe, morta no albor da vida,

Foi minha mãe, tão só; mas tu és mãe daquela

Que tanto amei; por isso, és muito mais querida,

Infinitamente és mais querida do que ela,

Assim como minha alma achava mais preciosa

Que a própria salvação – minha adorada esposa.

Tradução de Mílton Amado

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