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Archive for fevereiro \29\-03:00 2012

VIENT DE PARAITRE-II

EMMA

Emma foi o segundo livro de Jane Austen que traduzi para a Nova Fronteira, em 1996; esgotado no ano seguinte, tornou-se raridade nas livrarias, só encontrado em sebos especiais a preços fora da realidade. A capa da primeira edição era belíssima: um leque entreaberto, mostrando dois medalhões com ilustrações da época, acetinada a verniz brilhante. Não sei explicar o motivo por que ficou tanto tempo fora do catálogo da Editora, mas eis que surge agora uma nova edição em convênio com a Siciliano, no formato de bolso, a preço mais que módico. O texto permanece igual – uma oportunidade para quem ainda não tinha lido este interessante romance de Jane Austen. Confesso que a capa atual não é lá estas maravilhas: parece que o autor (Cássio Loredano) caprichou na feiúra da Jane, que embora não fosse bonita também não era assim tão feia. O exagero vai por conta de ser uma caricatura, em que as feições em geral são deturpadas e os traços característicos amplificados.

 Nota oportuna: a Nova Fronteira informa que a edição de luxo de Razão e Sentimento, com gravuras do original e um encarte contendo capas coloridas de dezenas de edições estrangeiras – que deveria ter sido lançada em novembro, em comemoração ao 200º aniversário da primeira edição original – só agora alcançará as livrarias, pois houve problemas com a capa dura – (as encadernadoras estavam todas ocupadas por conta das encomendas governamentais). Vale a pena esperar, pois a edição está belíssima.

 

PINÓQUIO

 

Numa entrevista que pode ser lida no blog da Cosac & Naify, confesso que nunca tinha lido Pinóquio no original. Conhecia, como a maior parte dos leitores, as adaptações do livro feitas para crianças, nas quais apenas a linearidade da narrativa é mantida, menosprezando-se inteiramente a parte mais importante que é o estilo de Carlo Collodi(1826-1890), seu autor italiano.

Os estúdios Disney contribuíram para acentuar (e mesmo desfigurar) a história do boneco traquinas, fazendo de Pinóquio um menino convencional, como os outros. Ao ler o texto italiano me dei conta da riqueza que era o livro, da preciosa estilística do autor, de seu timing absolutamente em sintonia com as modernas concepções das histórias em série, e principalmente com o multicolorido de seu vocabulário, a utilização econômica e inteligente do diálogo. Quando terminei a leitura, fui levado a traduzir um posfácio de Ítalo Calvino, que faz – finalmente – justiça ao valor do livro. Diz ele: “O lugar que em cem anos Pinóquio conquistou em nossa história literária é bem a de um clássico, mas de um clássico menor. Pois chegou a hora de dizer que deve ser considerado entre os grandes livros da literatura italiana, na qual, sem Pinóquio, alguns componentes necessários viriam certamente faltar.” A edição de luxo de    As aventuras de Pinóquio foi lançada em dezembro do ano passado, numa tiragem de apenas 3.500 exemplares em papel  GardaPat kiara de 120gr/m2, numa caixa (luva) especial; agora em março sairá a edição comercial, com as mesma características (salvo a qualidade do papel). Sua oportunidade de ler – pela primeira vez – esta obra-prima literária que você pensava (como eu pensei) que fosse apenas uma história para crianças.


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VIENT DE PARAITRE

O CORVO ESTÁ DE VOLTA

Lançado pela Lacerda Editores/Editora Nova Aguilar, no ano 2000, em 2ª. edição (aumentada) e esgotado desde aquela época, sai agora pela LEYA, de São Paulo, a 3ª. edição (definitiva) deste livrinho que tanto vem agradando os seus leitores. Nascido de um pequeno ensaio que escrevi em 1994  para a revista Poesia Sempre, da Biblioteca Nacional, de que eu era um dos conselheiros, e no qual analisava a estrutura do poema e as tentativas mais ou menos felizes de vertê-lo em português, acabei reformulando o texto do estudo, a ele juntando algumas traduções exemplificativas.

Foi em 1997, num encontro com o Carlos Heitor Cony, durante o qual muito falamos sobre traduções e principalmente sobre a do Corvo, que acabei convencido da oportunidade de reunir aquele material em livro. A crônica abaixo, de Cony, explica o resto:

“O Corvo” e seus Leitores

 

Meados de 1997. Num almoço com o poeta e amigo Ivo Barroso, falávamos sobre traduções e nem me lembro mais como chegamos a “O Corvo”, de Edgar Allan Poe. Em minha vã ignorância, pensava que o poema só havia merecido duas versões em português, a de Machado de Assis e a de Fernando Pessoa.

Ivo falou de uma outra versão, a  de Milton Amado. Começou a recitar a primeira estrofe, cuja história é tão popular, entre nós, quanto a abertura de Os Lusíadas. Eu não a conhecia. Tinha referências de uma terceira tradução. A de Gondin da Fonseca. Ignorava compactamente o texto que Ivo recitava.

Foi assim que também me entusiasmei. Sabia que o mineiro Milton Amado traduzira outras obras em parceria com Oscar Mendes. No dia seguinte, Ivo enviou-me a tradução integral, acompanhando o ensaio que havia escrito sobre o tema, dando-me na bandeja um bom assunto para minha crônica diária na Folha de S. Paulo.

Por força da localização de meu texto na página de opinião daquele jornal, minhas crônicas são geralmente de natureza política. Evidente que uso e abuso da independência que é a marcar da Folha. Sempre que posso, emigro do dia a dia de nossa vida pública e enveredo para temas variados, embora tenha certa relutância em abordar a seara literária – natural constrangimento de quem atua profissionalmente no jornalismo e na literatura.

Bem, seria mais uma crônica, das muitas que já escrevi. Daí que não me emocionei quando recebi o primeiro fax de um leitor pedindo a transcrição integral do texto de Milton Amado. Nos dias seguintes, começaram a chegar telegramas, cartas, faxes e telefonemas  com o mesmo pedido. De todas as regiões do Brasil apareciam curtidores do poema, confraria numerosa espalhada em todo território nacional. Liguei para Ivo que me deu informação igual: também ele estava sendo solicitado a mostrar o mapa da mina.

Ficamos orgulhosos em saber que um tema literário despertava tanto e tamanho interesse. Uma semana depois, recebi uma espécie de reclamação do departamento ligado ao relacionamento da Folha com seus leitores. O volume de pedidos vindos de todas as partes do Brasil começava a tumultuar o serviço. Sugeriram-me que eu tomasse uma providência.

Fiz nova crônica, explicando o óbvio: meu espaço era pequeno para publicar a tradução de um poema razoavelmente longo. Além disso, havia a questão dos direitos autorais. Transmiti as indicações que me foram passadas pelo Ivo: a tradução do Milton integrava a coleção Poesia e prosa (Obras completas) de Edgar Allan Poe, da Globo, de Porto Alegre, 1943. E, mais recentemente, a edição da Nova Aguilar reunindo a obra completa de Poe.

Posteriormente, num encontro casual com meu amigo Maurício Azedo, ele me agarrou pelo braço, levou-me a um canto e começou a recitar outra tradução de “O Corvo”, essa de Benedito Lopes. Novamente liguei para o Ivo e fiquei sabendo que ele estava dando o toque das cinco traduções citadas: Machado, Pessoa, Milton, Gondin, Benedito Lopes, e mais uma ainda, a de Alexei Bueno, feita  em 1980.

Trata-se de excelente ocasião para o leitor brasileiro tomar conhecimento não apenas do poema em si mas dos desafios da versão de um texto literário em outra língua. Além de pertencer ao primeiro time dos poetas nacionais, Ivo Barroso é, reconhecidamente, um dos nossos mais importantes mestres na arte da tradução. Seu nome – editores e leitores o sabem – é garantia de seriedade e bom gosto.

Essa é, em resumo, a história deste livro. Embora não se trate de um campeonato, é evidente que temos, Ivo e eu, opinião pessoal a respeito de cada uma das traduções. E aí a surpresa: apesar de o poema ter merecido a atenção de dois dos monstros sagrados de nossa literatura (Machado e Pessoa), o trabalho de Milton Amado, modesto redator provinciano de  Minas Gerais é disparadamente o melhor, tanto do ponto de vista técnico como da fidelidade interna ao poema.

Em tempo: os direitos autorais da primeira edição, por determinação de Ivo e consenso dos herdeiros dos tradutores cuja obra ainda não caiu em domínio público, serão da família de Milton Amado. Afinal, foi ele quem deu pretexto e oportunidade para a publicação, em livro, do ensaio de Ivo Barroso.

De minha parte, comerei o prato frio da vingança podendo informar ao serviço de atendimento aos leitores de a Folha que o retorno dado à crônica sobre “O Corvo” foi um dos motivos deste livro.  E que muitos novamente se emocionarão lendo uma boa e criativa linguagem literária alguns dos mais belos versos produzidos pelo gênio humano.

Carlos Heitor Cony

***

Esta nova edição transcreve o grande feito de Didier Lamaison que, a nosso pedido, resolveu dotar a língua francesa de uma tradução condigna do poema de Edgar Allan Poe. Seus ilustres antecessores – Charles Baudelaire e Stéphane Mallarmé – haviam produzido belíssimas “interpretações prosísticas” do poema, mas em ambos os casos – embora o que foi dito em inglês estivesse reproduzido em francês – o texto parecia ser mais a tradução  de um conto, de uma das histórias extraordinárias de Poe, do que de fato a de um poema. Faltava-lhe a estrutura métrica, as rimas tríplices, a estrofação inédita que lhe asseguravam a beleza, a música e o encantamento poético. Era um enredo, não um poema. Pois Didier levou a sério o desafio, sofreu, penou, trancou-se com seu corvo numa noite tempestuosa e dela saiu com essa obra-prima que é a sua tradução. Vale o livro.

ADEUS SHAKESPEARE

Quando terminei a edição do 3º (e último) volume da Obra Completa de Arthur Rimbaud, a maneira que encontrei de dizer adeus àqueles anos todos de trabalho, em que estive debruçado sobre ela, foi doando ao Centro Cultural Banco do Brasil os 170 volumes que eu havia colecionado a esse respeito (vide post de 19.11.2011). Antes de me dedicar a Rimbaud, vinha, desde 1947, tentando traduzir os sonetos de Shakespeare, que foram afinal publicados pela Nova Fronteira em 1973 e reeditados em 1975 (24 sonetos), com novas edições em 1991  (30 sonetos) e em edição de bolso em 2005 (42 sonetos).  Agora que cheguei ao número máximo que me havia imposto desde o início das traduções (50 sonetos), a Nova Fronteira está lançando uma 5ª Edição Especial desse trabalho, com belíssima capa que reproduz um quadro do célebre pintor elizabetano Nicholas Hilliard (1519-1554). Foi talvez o trabalho a que me dediquei com mais denodo e pertinácia, exercitando-me, ao longo do tempo, em procurar equivalências ao sentido do texto e de seu envolvimento poético. Embora tenha mais de duas dezenas de volumes a respeito, inclusive uma preciosidade que é a tradução de Hamleto, de Tristão da Cunha (1933), que serviu para a encenação (e glória) de Sérgio Cardoso no papel – ainda pretendo conservar esse acervo por algum tempo, não porque pretenda ultrapassar a meta fixada, mas para me ampliar em novas leituras shakesperianas, além dos Sonetos.

A revista literária Dicta & Contradicta, de São Paulo, editada pelo EFE (Instituto de Formação e Educação) em seu número 07, de junho de 2011 , publicou o seguinte comentário do crítico literário Jessé de Almeida Primo:

 

O SONETO XII de W. SHAKESPEARE

EM TRADUÇÃO DE IVO BARROSO

 

Essa tradução é uma das realizações mais felizes que alguém poderia conceber. Com ela, Ivo Bar­oso logrou um daqueles versos que nos freia o ímpeto de seguir adiante, faz-nos demorar para curtir cada detalhe, de saborear cada palavra e até esquecer que há mais treze esperando pacientemente nossa apreciação.

No final, pouco importa se é uma tradução ou uma composição 100% original. De fato, quando se atinge tal excelência, passa a fazer parte do repertório do próprio tradutor, a ser uma realização tão-somente sua, até se integrar, enfim, ao espírito de sua cultura.

Apenas tivesse traduzido a primeira linha, já seria um grande feito. Somos levados a nos deter no verso de abertura, tal como acontece também no original. E por meio de uma  impressionante equivalência sonora – reproduzindo o tic-tac do relógio do poema de saída – diz a mesma coisa pelo recurso a outra frase:

 

[When I] [do COUNT] [the CLOCK] [that TELLS][the TIME]

[QuandO A HO] [ra DO][bra em TRIS][te e TAR][do Toque]

Enquanto no original o verso explicita a presença de alguém que acompanha a batida do relógio (“when I do count the clock…”) que o faz refletir sobre a passagem do tempo e a proximidade da morte (“… that tells the time’), a tradução, por sua vez, estende na forma original do pentâmetro iâmbico o conteúdo dos três últimos  pés métricos, ignorando, através de uma estratégia formal, a presença do sujeito que aparece nos dois primeiros.

 

[ATÉ BREVE]

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