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Archive for junho \30\-03:00 2019

ARILDO, O MOSQUETEIRO

Há mais de 60 anos, no dia 24 de julho de 1955, o JORNAL DO POVO, de Ponte Nova-MG anunciava com destaque o aparecimento de uma nova seção intitulada “Os 3 Mosqueteiros”, “a cargo de quatro jovens esperanças do jornalismo mineiro” [sic]: Ivo Barroso (D’Artagnan), Albertus Marques (Athos), Arildo Salles Dória (Porthos) e Geraldo Marques (Aramis). Éramos todos amigos e funcionários do Banco do Brasil, dando o máximo de nossas energias e ânsia literária para o abrilhantamento do jornal interiorano que nos abrira suas portas. Conheci o Albertus (Athos) logo que cheguei ao Rio, em 1945, quando partilhamos a mesma carteira dupla do Colégio Vera Cruz, na rua São Francisco Xavier. O Arildo (Porthos) foi um pouco depois, quando nos mudamos para o Andaraí, já nos anos ’50. Ele morava numa casa de frente para a rua Maxwel, esquina da Pontes Correa, que era a minha rua. Sempre que passava por ali, o janelão aberto da casa da Dona Cora, deixava ver lá dentro uma rapaziada alegre, sempre cantando e dançando. Eram sobrinhos e sobrinhas da família capixaba que vinham conhecer o Rio. Arildo era o filho mais novo, tinha quatro outros irmãos, todos militares ou cursando o Colégio Militar. Ele, no entanto, era chegado às letras e logo nos demos bem, e um dia, ao passar pela rua, vi lá dentro, a Silvia, irmã da vizinha de Dona Cora, em cuja casa estava hospedada. Foi Arildo que nos apresentou e nos serviu de cupido, até o dia em que me casei com ela em 1956.

Durante quase dez anos escrevemos a página quádrupla Os Três Mosqueteiros, onde Arildo se destacava pelos seus artigos de ardoroso fundo político. Essa tendência foi se tornando militância com a adesão de Arildo ao Partido Comunista. Com o advento da Ditadura Militar, ele passou a ser constantemente procurado para investigações e depoimentos, e sempre se safava do pior (prisão e torturas) graças à interferência dos irmãos militares. O máximo que os censores conseguiram foi ameaçar sua carreira bancária, forçando o Banco a transferi-lo para o Piauí, como uma espécie de degredo onde passou três anos. De volta, foi transferido para Brasília, onde chegou a ser preso em 1972, quando já membro militante do PC, tentava reorganizar o partido. Definindo-se como um “apátrida” e um “torto” na vida, Arildo começou a trabalhar na Câmara dos Deputados em 1987, no gabinete do então deputado pelo PCB e ex- companheiro do Sindicato dos Bancários Augusto Carvalho, incumbido entre outras tarefas a de escrever praticamente todos os discursos dos deputados vermelhos e líderes sindicais. Fundou o movimento sindical Cidadania de que foi o presidente executivo. Suas preferências políticas nunca interferiram em nossa amizade: continuávamos a considerá-lo nosso “padrinho de casamento” e “amigo secular”. Era o primeiro a me telefonar no dia de meu aniversário e eu procurava fazer o mesmo a cada 2 de Janeiro, que era o seu. Pois o intrépido mosqueteiro Porthos, para o nosso pesar, o de seus amigos, familiares e sindicalistas baixou a espada no domingo passado, dia 23,vítima de complicações pulmonares com que vinha se debatendo (sic) havia algum tempo. Missão mais do que cumprida! Amigo até o fim!

Obituário: Albertus da Costa Marques, o Athos, faleceu em 2010, vítima de insuficiência renal (fazia diálise 3 vezes por semana) e o frágil Geraldo Marques, o Geraldinho. desapareceu total e definitivamente durante a Ditadura, perseguido por suas ideais esquerdistas (?) . Apagado dos anais do Banco do Brasil, todos os esforços para saber de seu destino foram inúteis, mesmo com auxílio do Comité da Verdade. Agora os três me deixaram aqui esgrimindo sozinho no ar da saudade e da lembrança.

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OMBRO AMIGO-I

 LAMÚRIAS EDITORIAIS


Foi o meu grande amigo W. J. Solha, o polivalente, que sabendo das minhas atuais decepções editoriais me aconselhou a compartilhá-las com os leitores, expondo-as na Gaveta. Não será – afirma ele e sei eu – um modo de resolvê-las, mas pelo menos a ilusão de que, tornando-as públicas, consigo com isto um desabafo, um ombro amigo em que me amparar para a lamúria.

1) ASCESE

Em 1973, quando fui morar em Lisboa, propus à Editora Record traduzir o livro Ascese, de Nikos Kazantzakis, cuja leitura me havia empolgado. Tratava-se de uma tentativa meio filosófica, meio literária de conciliar o catolicismo com o marxismo. O texto fora redigido originalmente em francês, pois o autor, grego, residia então na França, e seu amigo e professor de francês Aziz Izzet se incumbiu da revisão e edição da obra, lançada pela Livraria Plon em 1959. Minha tradução (eis a capa) saiu naquele mesmo ano e se esgotou em pouco tempo. Anos depois, quando regressei ao Brasil, quis reativar meus trabalhos literários e tentei reeditar a obra com a Record. Nesse ínterim, já havia aparecido outra suposta edição da mesma obra, traduzida do original grego pelo excelente José Paulo Paes para a Editora Ática. Foram inúteis minhas tentativas de convencer meus editores de que se tratava de duas obras diferentes: uma escrita inicialmente em francês e composta de fragmentos, e outra desenvolvida pelo autor com intenções doutrinárias. Logo em seguida, enquanto a Record tentava reativar seu contrato com a Plon para reeditar a obra de Aziz, os direitos autorais da obra completa de Kazantzakis foram adquiridos no Brasil pela Editora Grua, da São Paulo, que não demorou em lançar uma terceira edição “traduzida diretamente do grego“ por Silvia Ricardino. Com isto, o texto da seleção de Aziz Izzet, de leitura fluente e agradável, foi definitivamente substituído pela prosa filosófica pesada e doutrinária de Kazanlzakis. E eu nunca mais vou poder reeditar a minha tradução. Perdida para sempre!

 

2) OS GATOS

Em 1983, eu e o José Guilherme Merquior (que também morava em Londres) fomos ao musical Cats, de Andrew Lloyd Weber muito na curiosidade de ver como esse compositor teria adaptado para o palco o livro de T. S. Eliot, Old Possum’s Book of Practical Cats, e ficamos ambos surpresos em ver que ele nada havia alterado nos versos humorísticos do grande poeta, os quais funcionavam na peça perfeitamente como letras de música. Merquior argumentou comigo que seria, portanto, possível fazer uma tradução daqueles versos sem deturpar seus elementos constitutivos (métrica, rima, jogos de palavras, etc), desde que se encontrassem, evidentemente, equivalências de linguagem e situações que correspondessem às glosadas pelo autor. Da hipótese à intimação foi só um momento, que passou a se materializar em cobranças quase diárias sobre o andamento dos trabalhos. Foram meses de trabalho árduo, cujos resultados o Merquior não pôde avaliar por ter falecido antes de sair a minha tradução em 1991, pela Editora Nórdica, detentora dos direitos da edição em língua portuguesa. O livro obteve o prêmio Jabuti de tradução de 1992. Tivemos mais duas edições consecutivas da Nórdica, mas eis que a Nova Fronteira adquire os direitos autorais da obra poética de Eliot, e o Ivan Junqueira, que já havia traduzido uma parte significativa dela, teve de traduzir também Os Gatos, já que o contrato exigia um único tradutor para o conjunto da obra (2004). Em seguida, tais direitos passaram para a Companhia de Letras, de São Paulo, e eu lhes ofereci a minha tradução, que só aceitariam se lhes cedesse definitivamente os direitos de tradutor. Tive de fazê-lo (por um preço vil) para não perder a oportunidade e fiquei até feliz com a bela edição que publicaram em 2010, bilíngue e com novas gravuras de Axel Scheffler. Embora eu já não lhe detivesse os direitos autorais, a minha tradução parecia pelo menos estar a salvo. Mas eis que a mesma Companhia das Letras adquire em seguida os direitos da obra completa de Eliot e chama o fac-totum Caetano Galindo para traduzir a poesia completa e, como no caso da Nova Fronteira, os Gatos também entraram na dança. Resultado: minha tradução ficou relegada ao oblívio e certamente jamais será reeditada pelo menos enquanto a Companhia das Letras detiver os direitos da obra completa do Eliot! Estou esperando outra facada: Eu traduzi em 2004 para a Arx o Teatro Completo (5 peças) do Eliot. Tudo indica que a Companhia vai entrar com uma nova tradução das mesmas certamente pelo indefectível Galindo. Choro pelos meus Gatos, que sempre considerei uma das minhas melhores, senão a melhor, traduções de poesia. Adeus gatinhos, perdidos para sempre!

 

3) À MARGEM DAS TRADUÇÕES

Durante anos (1944 a 1946), acompanhei (e recortei) de o Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, a seção À Margem das Traduções, em que um anônimo, profundamente habilitado, comentava as traduções (principalmente as más) que saíam nas livrarias, assinadas não raro por incensados nomes da literatura nacional. Cheguei a ter uma pilha de recortes guardados numa garagem que, um dia, sofreu devastadora inundação e transformou aquelas preciosidades em pasta informe de papel. Anos mais tarde, já embrenhado no ofício de tradutor, lembrei-me de recuperar aquelas verdadeiras lições da arte tradutória e acabei por descobrir que o autor era um obscuro professor mineiro, Agenor Soares de Moura, residente em Barbacena, interior de Minas, falecido em 1957. Consegui entrar em contato com seu único descendente então vivo, Afonso de Siqueira Soares, detentor da possivelmente única coleção completa dos artigos do crítico-tradutor. Afonso, desde muito sonhava com a revelação da obra de seu erudito pai. Meu interesse pelos artigos de Agenor decorria do fato de ele não apenas apontar os erros tradutórios (em cerca de 5 línguas), mas igualmente em apresentar a maneira adequada de consertá-los, dando-lhes forma elegante em português. Resolvi organizar a papelada, ler tudo para catar os excessos de purismo gramatical que já então não prevaleciam e consegui interessar a então Editora Arx, de São Paulo, a editar o livro com seus 89 artigos que cobriam o período 10/09/1944 a 30/06/1946. Consegui ainda um lúcido prefácio do prof. Paulo Rónai, indiscutível autoridade no assunto. O livro saiu em 2003, esgotou-se, tem sido muito procurado pelo valor intrínseco de seu conteúdo, mas… não consigo mais nenhum contato com a editora que o publicou. (Alguns exemplares ainda aparecem na Estante Virtual). Perdido para sempre?

(CONTINUA)

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 A GAVETA COMEMORA: 

As comemorações da data de Corpus Christi podem ser vistas aqui 

Corpus Christi – o corpo de Deus – 15/06/17 

Eucaristia – o corpo de Deus – 31/05/18 

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Ney, filho do S’ Ormindo
——PRESENTE 

Ney, goleiro e dono da bola
——PRESENTE 

Ney, amigo do Tututa e rival do Don Del Oro
——PRESENTE 

Ney, aluno de Dona Nenzinha
——PRESENTE 

Ney Julião, nascido em julho de 1932
——PRESENTE 

Ney, apelidado de Góis por ter bochechas iguais ao do Gal. Góis Monteiro
——PRESENTE 

Ney, benfeitor da Biblioteca de Ervália

——PRESENTE 

Ney, marido da Conceiça e pai da Claudinha e Marco Antônio

——PRESENTE 

Ney, torcedor doente e sócio-diretor do Fluminense

——PRESENTE 

Ney, professor emérito do Pedro II

——PRESENTE 

Ney, idolatrado por seus alunos e colegas professores
——PRESENTE 

NEY, a alegria dos amigos com seus causos do Herval
——PRESENTE 

NEY, dos mil e um atributos entre os quais o de meu irmão querido: 

É com a maior angústia que constato a sua ausência há cinco anos 

E vibro de alegria ao lembrar que está presente em tudo e todos nós. 

Não se morre, ausenta-se inexplicavelmente por uns tempos. 

Leia mais sobre o Professor Ney, aqui: 

Homenagem póstuma

Mais uma saudade

Parabéns silenciosos

Football

Éramos quatro

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 Leia as homenagens da Gaveta ao Dia dos Namorados aqui.

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