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Archive for março \31\-03:00 2016

Um conto de Italo Svevo traduzido por Ivo Barroso

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Num vale fechado por colinas arborizadas, sorridentes com as cores da primavera, erguem-se, uma ao lado da outra, duas grandes casas singelas, de pedra e cal. Pareciam feitas ambas pelas mesmas mãos, e até os jardins cercados de sebes, existentes diante de cada uma delas, eram das mesmas dimensões e forma. Seus habitantes,  porém, não tinham o mesmo destino.

Num dos jardins, enquanto o cão dormia na corrente e o camponês lavorava em volta do pomar, num cantinho, apartados, alguns pintinhos falavam de suas grandes experiências. Havia outros mais velhos no jardim, mas os pintinhos, cujos corpos conservavam ainda a forma do ovo de que haviam saído, gostavam de examinar entre eles a vida em que ora estavam e com a qual ainda não se acostumavam. Já haviam sofrido e gozado porque a vida de uns poucos dias é mais longa do que pode parecer a quem a experimenta em anos, e sabiam muitas coisas, já que haviam trazido consigo desde o ovo uma boa parte da grande experiência. De fato, mal avistaram a luz do dia, perceberam que era necessário examinar-se bem as coisas, primeiro com um olho depois com o outro, para se saber se deviam comê-las ou refugá-las.

E falavam do mundo e de sua vastidão, com aquelas árvores e sebes que os circundavam, e aquela casa tão grande e tão alta. Falavam de todas as coisas que estavam vendo,  mas que eram vistas melhor quando falavam delas.

Um  deles, de penugem amarelada, já saciado – e portanto desocupado – não se contentou em falar das coisas que se viam e relatou algo que a tepidez do sol lhe havia sugerido: — A verdade é que estamos bem graças ao calor do sol, mas soube que neste mundo podemos estar ainda melhor, o que me desagrada muito e lhes conto para que lhes desagrade também. A filha do camponês disse que somos infelizes porque não temos mãe.  Disse isto com um acento de tão forte compaixão que quase chorei.

Outro, mais branco e algumas horas mais novo que o primeiro, e que por isso se lembrava ainda com satisfação da doce atmosfera em que nascera, protestou: — Bem que tivemos mãe. É aquele pequeno armário sempre quente, mesmo quando faz o frio mais intenso, do qual saem os pintinhos já prontos.

O amarelo, que já trazia havia muito gravadas na alma as palavras da camponesa, e tivera portanto tempo de ampliá-las sonhando com aquela mãe a ponto de imaginá-la do tamanho do jardim e tão gostosa como a comida, exclamou, com um desprezo destinado tanto ao seu interlocutor quanto à mãe da qual este falara: — Se se  tratasse de uma mãe morta, todos nós a teríamos . Mas a mãe está viva e corre muito mais veloz do que nós. Talvez tenha rodas como a carroça do camponês. Por isso pode estar ao teu lado, sem que haja necessidade de chamá-la, para aquecer-te quando estiveres a ponto de sucumbir pelo frio deste mundo. Como deve ser bom ter ao nosso lado, de noite, uma mãe assim.

Interveio um terceiro pinto, irmão dos demais por ter saído da mesma máquina, porém que o havia fabricado um tanto diferente, o bico mais largo e as perninhas mais curtas. Achavam-no um pintinho mal-educado porque quando comia ouvia-se bater  seu bico no chão, quando na verdade se tratava de um patinho que entre os seus era tido por muito educado. Também na presença deste a camponesa havia falado a respeito de mãe. Isso acontecera naquela vez em que um pintinho morrera caído exausto de frio na grama, cercado pelos outros pintinhos que não o haviam socorrido por não sentirem o mesmo frio que os demais. E o patinho com o ar ingênuo que tinha sua carinha invadida pela base larga de seu bico, afirmou convicto que se tivessem mãe os pintinhos não podiam morrer.

O desejo de ter mãe logo infestou o galinheiro e se tornou mais vivo, mais inquietante na mente dos pintinhos mais velhos. Muitas vezes as doenças infantis atacam  os adultos e se tornam perigosas para eles, e as ideias também, às vezes. A imagem da mãe como se havia formado naquelas cabecinhas aquecidas pela primavera, desenvolveu-se desmesuradamente, e tudo o que era bom passou a chamar-se mãe, o tempo bom e a abundância, e quando os pintinhos, os patinhos e os peruzinhos sofriam, tornavam-se verdadeiros irmãos porque suspiravam pela mesma mãe.

Um dos mais velhos jurou um dia que havia encontrado sua mãe, pois não queria mais viver sem ela. Era o único no galinheiro que tinha um nome e se chamava Curra, porque quando a camponesa com as rações no avental chamava curra, curra, ele era o primeiro a correr. Já era vigoroso, um galinho em cuja alma generosa se albergava a combatividade. Esbelto e comprido como uma lâmina, ele exigia a mãe antes de tudo para que o admirasse: a mãe que diziam saber proporcionar todas as doçuras e, portanto, a satisfação das ambições e das vaidades.

Um dia, resoluto, Curra de um salto deslizou para fora da sebe que, compacta, contornava o jardim natal. Ao ar livre parou de súbito incontido. Onde encontrar a mãe na imensidão daquele vale sobre o qual um céu azul se sobrepunha ainda mais vasto? A ele, tão pequenino, não era possível procurar naquela imensidão. Por isso não se afastou muito do jardim natal, o mundo que conhecia, e, pensativo, deu-lhe a volta. Acabou assim chegando  diante da sebe do outro jardim.

— Se a mãe estivesse aqui dentro – pensou – eu logo a teria encontrado. Recuperando-se da perturbação que lhe causava o espaço infinito, não mais hesitou. Com um pulo atravessou também aquela sebe, e encontrou-se num jardim muito semelhante àquele donde viera.

Também ali havia um enxame de pintinhos muito novos que se debatiam na grama espessa. Mas ali havia também um animal que faltava no jardim anterior. Um pintinho enorme, talvez dez vezes maior que Curra, dominava no meio dos animaizinhos apenas cobertos de penugem, os quais – como logo se via – consideravam o grande e poderoso animal como seu chefe e protetor. E esse vigiava a todos. Dirigia uma admoestação àquele que se afastava demasiado, com dois sons muito semelhantes aos que a camponesa no outro jardim usava com os próprios pintinhos. Mas fazia algo mais. De tempos em tempos se aninhava sobre os mais fraquinhos cobrindo-os com todo o seu corpo, decerto para lhes transmitir seu próprio calor.

— Aquela é a mãe, — pensou Curra todo alegre, — Encontrei-a e agora não vou deixá-la mais. Como vai me amar! Sou mais forte e mais belo que todos os outros. E além disso vai ser fácil para mim obedecê-la, já que a amo. Como é bela e majestosa. Já estou amando-a e quero me submeter a ela. Vou até ajudá-la a proteger todos estes insensatos.

Sem olhar para ele a mãe o chamou. Curra aproximou-se achando que ele fora mesmo o chamado. Viu-a ocupada em remover a terra com rápidos golpes dos poderosos esporões, e parou curioso com aquele trabalho que ele presenciava pela primeira vez. Quando ela parou, um pequeno verme se retorcia diante dela no terreno cuja grama arrancara. Agora ela cacarejava enquanto os pintinhos em seu redor não compreendiam e a olhavam estáticos.

— Que tolos! – pensou Curra. – Não compreendem que ela quer que eles comam a minhoca. – E, sempre impelido pelo seu entusiasmo de obediência, precipitou-se rápido sobre a presa e a engoliu.

Aí então — pobre do Curra – a mãe lançou-se furiosa contra ele. Custou a entender o que estava acontecendo porque a princípio pensou que ela, que acabara de encontrá-lo, quisesse acariciá-lo efusivamente. Aceitaria reconhecido todas as carícias das quais nada sabia, e por isso admitia que até podiam ser más. Mas os golpes do duro bico, que choviam sobre ele, certamente não eram beijos e lhe afastaram qualquer dúvida. Quis fugir, mas o passaroco impediu-o e, passando-lhe à frente, saltou-lhe em cima fincando-lhe as garras no ventre.

Com um esforço imenso, Curra ergueu-se e correu para a sebe. Em sua louca corrida derrubou uns pintinhos que lá ficaram com as patinhas para o ar piando desesperadamente. Foi o que lhe permitiu salvar-se, pois sua inimiga se deteve um instante junto aos caídos. Chegando à sebe, Curra, com um salto, apesar de tantos ramos e espinhos, conseguiu levar seu pequeno e ágil corpo para fora.

A mãe, ao contrário, ficou presa no intrincado espesso da sebe. E lá ficou majestosa olhando como se de uma janela o intruso que, exausto, também havia parado.  Olhava-o com olhos redondos, rubros de raiva. —  Quem é você que se apropriou da comida que eu com tanto esforço havia escavado da terra?

— Eu sou o Curra —  disse humildemente o pintinho. — Mas quem é você que me machucou tanto?

Às duas perguntas houve uma só resposta: — Eu sou a mãe, — e desdenhosamente lhe voltou as costas..

Algum tempo depois, Curra, já agora um magnífico galo de raça, achava-se em outro galinheiro. E um dia ouviu que todos os seus novos companheiros falavam com afeto e saudades sobre a mãe.

Admirado de seu próprio e atroz destino, Curra disse com tristeza: — Minha mãe, ao contrário, era um uma fera odienta e teria sido melhor para mim se nunca a tivesse conhecido.

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TRADUZIDO POR IVO BARROSO 

 

jesus

O CRISTO DE VELÁZQUEZ, 

Em que pensas, ó morto Cristo meu?

Por que esse véu de noite carregada

de tua vasta cabeleira negra

de nazareno cai sobre o teu rosto?

Olhas dentro de Ti, lá onde o reino

de Deus está, em Ti, onde alvorece

o eterno sol, o sol das almas vivas.

Teu corpo branco, que semelha o espelho

do pai da luz, do sol vivificante;

teu corpo branco assim como o da lua

que morta ronda em torno à sua mãe

nossa cansada e vagabunda terra;

teu corpo branco está como uma hóstia

do céu de alguma noite soberana,

daquele céu tão negro quanto o véu

de tua vasta cabeleira negra

de nazareno. Tu és, ó Cristo, o único

homem que sucumbiu por seu intento,

triunfador da morte, pois que a vida

por Ti se enalteceu. E desde então

tua morte por Ti nos vivifica,

por Ti a morte se fez nossa mãe,

por Ti a morte agora é amparo doce

que dulcifica esse amargor da vida;

por Ti, o Homem morto que não morre

branco qual lua em plena noite. A vida

é sonho, Cristo, e a morte é a vigília.

Enquanto a terra solitária sonha,

a branca lua vela, e vela o Homem

em sua cruz, enquanto os homens sonham;

vela o Homem sem sangue, o Homem branco

como a lua a velar na noite negra;

vela o Homem que deu todo o seu sangue

para que as gentes saibam que são homens.

Tu salvaste da morte. Abre teus braços

A essa noite, que é negra e muito bela,

porque o sol da vida a contemplou

com seus olhos de fogo e fez a noite

morena, sim o sol, e tão formosa.

Como é formosa a lua solitária,

a branca lua na estrelada noite

negra, igual à frondosa cabeleira

negra do nazareno. E a branca lua

como o corpo do Homem na cruz, espelho

do sol da vida, o sol que nunca morre.

Os raios, Mestre, de tua luz suave

nos guiam pela noite deste mundo,

a nós ungindo com a esperança régia

de um dia eterno. Noite carinhosa,

oh! noite, mãe de nossos brandos sonhos,

mãe da esperança, oh! nossa doce Noite,

noite escura da alma, és a nutriz

da esperança no Cristo salvador!

Miguel de Unamuno

                     Tr. Ivo Barroso

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Subsídios:

 

diego

 

DIEGO RODRIGEZ DE SILVA VELÁZQUEZ (1599-1660) foi um dos mais importantes pintores espanhóis da chamada escola barroca, tendo se distinguido na composição de retratos de integrantes da nobreza,com o que se tornou uma espécie de pintor real em1623. Em 1635 ,produziu sua considerada obra-prima de temática histórica, A rendição de Breda, e em 1651, após uma permanência na Itália, voltou à Espanha nomeado Aposentador Real ,ocasião em que realizou um de seus quadros mais famosos A família de Felipe IV (conhecido como”As Meninas”).  Sua representação do Cristo Crucificado, elaborada provavelmente em 1632, exprime, segundo os críticos,“uma fusão de serenidade, dignidade e nobreza, acentuada no corpo desnudo pelos efeitos de luz obtidos por toques de branco de chumbo aplicados sobre a superfície já concluída.”          Chama a atenção, ainda, em suas obras a presença do “tenebrismo” (aplicação de fundo escuro) e do realismo (busca por detalhes para deixar a obra mais real possível).

Corre a lenda de que a obra teria sido encomenda por Afonso IV para presentear o Convento das Monjas Beneditinas de San Plácido de Madrid , à guisa de arrependimento por ter o monarca se enamorado de uma de suas freiras. Menos crível ainda é a fabulação de que o pintor, insatisfeito com o rosto da imagem, teria atirado os pincéis molhados contra o quadro, nele provocando uma mancha que deu origem à espessa cabeleira que cobre a face do Cristo.

Velázquez, debilitado com o excesso de trabalho, faleceu de febre bacteriana aos 6 de agosto de 1660, em Madrid.

***

miguel

MIGUEL DE UNAMUNO Y JUGO (1864-1936) foi um ensaísta, romancista, dramaturgo, poeta e filósofo espanhol, tendo igualmente atuado na política como deputado (1931-33) pela região de Salamanca. É o principal representante espanhol do existencialismo cristão, conhecido principalmente por sua obra O sentimento trágico da vida (1913), que lhe valeu a condenação do Santo Ofício. Tendo apoiado inicialmente o franquismo, passaria seus últimos dias de vida em prisão domiciliar.

Já famoso em sua condição de profundo pensador religioso, catedrático e reitor da Universidade de Salamanca, aos 43 anos, publica seu primeiro livro de poesias, sobre o qual afirmou: “Só escrevi versos depois de passar dos trinta anos, e a maior parte deles ou a sua totalidade, depois dos quarenta… São poesias de outono, não de primavera” Em 1920 publicou seu famoso, O Cristo de Velázquez, longo poema dividido em XXXIX partes, com mais de dois mil versos brancos (não rimados), no qual se propôs “formular poeticamente o sentimento religioso castelhano, nossa mística popular”. Poema de exaltação religiosa, nele Unamuno procura descrever a agonia do Cristo crucificado através de comparações do corpo branco com a lua que ilumina a noite escura da condição humana. Condição esta a que se submete compassivamente o Cristo imortal, deixando-se morrer, qual luz que se ajusta à capacidade cognoscitiva do homem .

Destituído e reconduzido várias vezes à reitoria da Universidade de Salamanca, em razão de suas atitudes políticas, Unamuno passou seus últimos anos confinado, vindo a falecer a 31.12.1936.

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MANEKINkvi0fqlFEspero que você não esteja indo a Bruxelas (Bélgica) com a determinação de se inscrever no Estado Islâmico, e sim com o bom propósito, entre outros, de visitar um dos monumentos mais turísticos da cidade: o Manneken Pis, ou seja, a estátua do Menino Mijão.

Localizada na esquina da Rue de l’Étuve (Stoofstratt) com a Rue du Chêne (Eikstraat), basta pegar a travessa à esquerda da Prefeitura de Bruxelas (Brussels Stadhuis), na famosa Grand Place, e caminhar uns duzentos metros para chegar ao local. Ali está a estatuazinha, à sua esquerda. Desculpe a decepção, mas é de fato uma estatuazinha, pois esse corpo de bronze sob a forma de um garoto meio agachado, segurando o piruzinho no ato de urinar, mede apenas 61 cm. Foi moldada em 1619 pelo escultor flamengo Jerôme Duquesnoy (1570-1641), e, segundo a lenda, homenageia um menino belga que teria apagado um incêndio urinando sobre as chamas. Evidente exagero, procuram outros associar o bronze à homenagem de um nobre guerreiro que viu seu filho menor urinar tranquilamente numa árvore enquanto o combate corria solto em torno deles. Maneira paterna de interpretar como heroica a imagem de um mijão.

O curioso é que no Brasil, exatamente na praia de Botafogo, no Rio de Janeiro, existe uma réplica do Mannekin, aqui denominada Manequinho. Aliás, a palavra réplica é inadequada, pois, embora inspirada no bronze belga, o nosso Manequinho é obra original do escultor mineiro Belmiro Barbosa de Almeida (1858-1935), que a esculpiu com o intuito de vendê-la ao então prefeito da cidade, Rivadávia da Cunha Correa (1866-1920), para ser usada como  chafariz de logradouro público. Logo depois da inauguração, no entanto, a estátua foi roubada e destruída. Posteriormente, ao ser encontrado o molde original, um rico torcedor do Botafogo Futebol e Regatas comprou-o e mandou fundir outra imagem com a finalidade de promovê-la a mascote do time. Foi assim que ela acabou parando na pracinha em frente à sede do  Botafogo, como homenagem ao clube e ao bairro em que se encontra.

 ***

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Se o tema do menino fazendo xixi encontrou na escultura a sua representação famosa, também na literatura ele teve o seu momento consagratório.  Em 1870, com apenas 16 anos, o irrequieto Jean-Nicholas Arthur Rimbaud (1854-1891), azedamente crítico em relação à poesia romântica que se fazia então na França (Victor Hugo, Théophile Gautier, Théodore de Banville), rompe com os cânones líricos e quase chega a uma composição “naturalista”. Um de seus sonetos mais famosos, Oração da Tarde, descreve a si mesmo, de cachimbo na boca e caneco de cerveja à mão, no momento de executar a clássica saída de quem se vê “apertado”: aliviar-se a todo custo mesmo a céu aberto, em pleno contato com a natureza. Eis o poema:

ORAÇÃO DA TARDE

Vivo sentado como um anjo no barbeiro,
Empunhando um caneco ornado a caneluras;
Hipogástrio e pescoço arcados, um grosseiro
Cachimbo o espaço a inflar de tênues urdiduras.

Qual de um velho pombal o cálido esterqueiro,
Mil sonhos dentro em mim são brandas queimaduras.
E o triste coração às vezes é um sobreiro
Sangrando de ouro escuro e jovem nas nervuras.

Afogo com cuidado os sonhos, e depois
De ter bebido uns trinta ou bem quarenta chopes,
Oculto, satisfaço o meu aperto amargo:

Doce como o Senhor do cedro e dos hissopes,
Eu mijo para os céus cinzentos, alto e largo,
Com a plena aprovação dos curvos girassóis.

Arthur Rimbaud
Tradução: Ivo Barroso                                                                                                               

Notem o vocabulário específico: Hipogástrio, caneluras, sobreiro, e, no original, Gambier  (que é uma modalidade de cachimbo), além da blasfêmia de se comparar ao “Senhor do cedro e dos hissopes” (aspersórios de água benta), tudo com o gran finale daquele jato  dourado de urina fazendo um arco-íris sobre os curvos girassóis. Isso tudo sem se falar sequer na ousadia linguística de usar o chulo verbo pisser na composição poética. Demais, não?

E a nossa réplica nacional? Qual seria o nosso “manequinho” literário capaz de consagrar um poeta mijão? Ele existe, sim. Desenvolvendo-se praticamente no mesmo décor campestre, descreve um poeta bem à-vontade (até mesmo, no caso, de pijama), caminhando pelo mato, a respirar o cheiro dos currais. Inspirado ou não em Rimbaud, veja a maravilha que conseguiu o nosso famoso Marcus Vinicius de Moraes (1913-1980), sem fazer a menor economia do verbo proibido:

SONETO DE INTIMIDADE 

Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.  

Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.  

Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve

Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.

Vinicius de Moraes

                                                       ***

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Já que estamos falando de coincidências (ou semelhanças) literárias, há outro exemplo curioso, desta vez envolvendo o celebérrimo Fernando Pessoa, tido facilmente como o poeta mais representativo da poesia portuguesa moderna. É dele o mais que conhecido poema.

O Menino de Sua Mãe

No plano abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

Fernando Pessoa, in ‘Antologia Poética’

Este poema, sabido de cor pelas crianças portuguesas, foi publicado pelo poeta em 1926. Desde a primeira vez que o li, tive a sensação de que Pessoa se havia inspirado no soneto Le Dormeur du Val (O Adormecido do vale) escrito em 1870 por um jovem de 16 anos (ele de novo, é claro!), Arthur Rimbaud, que fugira de casa em Charleville, quase na fronteira belga, durante a guerra franco-prussiana (1870-71) e vira um soldado morto caído na relva.

O ADORMECIDO DO VALE

Era um recanto verde onde um regato canta
Doidamente a enredar nas ervas seus pendões
De prata; e onde o sol, no monte que suplanta,
Brilha: um pequeno vale a espumejar clarões.

Jovem soldado, boca aberta, fronte ao vento,
E a refrescar a nuca entre os agriões azuis,
Dorme; estendido sobre as relvas, ao relento,
Branco em seu leito verde onde chovia luz.

Os pés nos juncos, dorme. E sorri no abandono
De uma criança que risse, enferma, no seu sono:
Tem frio, ó Natureza – aquece-o no teu leito.

Os perfumes não mais lhe fremem as narinas;
Dorme ao sol, suas mãos a repousar supinas
Sobre o corpo. E tem dois furos rubros no peito.

Tradução Ivo Barroso

Não estou sozinho na suspeita. O nosso José Paulo Cavalcanti Filho em seu best seller “Fernando Pessoa, uma quase autobiografia”, diz assim à p. 327: “O menino, segundo José G. Herculano de Carvalho [foi] inspirado em ‘Le dormeur du val’, de Rimbaud. Comparei os dois e tive a mesma impressão”. Agravada certamente pela grande coincidência dos DOIS buracos no peito!…

Seja como for, esses paralelos encerram curiosas semelhanças…

Vejam também, na mesma linha:
Ainda Blake (e Machado) – uma curiosa coincidência 04/09/2010
Uma curiosa semelhança – Castro Alves e Rimbaud – 16/12/2013
                                                          ***
P. S. Nosso cotejo restringiu-se à poesia, mas temos conhecimento de que o tema encontra um paralelo também na prosa: Euclides da Cunha, numa passagem de “Os Sertões”, descreve ter visto um soldado que “descansava [havia três meses] – braços largamente abertos, face volvida para os céus”. Acredita-se que houve também aqui uma inspiração rimbaldiana. (Vide: “A Poeira da Glória”, de Martin Vasques da Cunha, Editora Record, 2015, pgs. 79 a 83)…

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AUTO DA BARCA DO INFERNO – GIL VICENTE 

Ganhador do  Jabuti de 2016

Monumento a Gil Vicente

Monumento a Gil Vicente

A Editora SESI-SP entrega este mês aos seus leitores o livro AUTO DA BARCA DO INFERNO, obra de estudo obrigatório nos cursos universitários de língua portuguesa. Escrito em 1517 pelo grande poeta clássico e dramaturgo português Gil Vicente (c. 1465-c.1536), o texto é um apólogo em versos de sete sílabas fartamente rimados visando à edificação moral dos leitores (ou ouvintes). Num porto inespecífico estão ancoradas duas barcas que se destinam a transportar os mortos em sua viagem final para o além. A barca mais enfeitada é a do Inferno e seu comandante, o Diabo; a mais singela, a do Paraíso, está sob a guarda de um Anjo à proa. Vários personagens (um fidalgo, um agiota, um simplório, um sapateiro, um frade, uma alcoviteira, um judeu, um corregedor, um procurador, um enforcado e quatro cavaleiros cristãos), que acabaram de morrer, aproximam-se, inicialmente da barca mais festiva, porém, percebendo o engano, voltam-se para a barca angelical em busca de transporte para o outro mundo. É através dos diálogos entre o demônio, o anjo e os passageiros que Gil Vicente exerce sua ironia e castiga verbalmente os maus costumes, deixando à mostra as iniquidades de alguns que ali se arvoram em virtuosos. Um retrato em água-forte de alguns costumes portugueses do séc. XVI.

Têm sido inúmeras as edições desse auto teatral famoso, nas quais ora se imprime o texto original em português arcaico, ora esse mesmo texto é adaptado ou explicado em termos acessíveis ao leitor moderno..O intuito desta edição do SESI-SP vai um pouco além. Tentou-se o que se chama hoje “tradução interlingual”, na qual se procura manter todas as qualidades poéticas do original (a mesma configuração estrófica, a identidade métrica e o mesmo esquema rímico), modernizando apenas a linguagem. Ou seja, procurou-se dar ao leitor atual a impressão de estar lendo os mesmos versos de Gil Vicente mas escritos em português do Brasil de hoje. Isso permitirá uma compreensão imediata do texto, conservando-se seu ritmo original e a exuberância de suas rimas. Texto para estudar e/ou mesmo para representar, pois o ouvinte não terá a menor dificuldade em entender o que vai dito.

Transcrevo abaixo a pequena nota que acrescentei ao livro explicando os critérios adotados na “tradução”:

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Nosso intuito — ao fazer uma tradução interlingual deste Auto de Gil Vicente — foi apresentar ao leitor brasileiro uma réplica do texto vicentino como se redigido hoje em linguagem corrente do Brasil. Além disso, pensando em sua representação teatral, buscamos utilizar um vocabulário de imediata compreensão auditiva, sem quaisquer palavras que requeressem do ouvinte uma consulta ao dicionário. Contudo, foi necessário mantermos alguns vocábulos específicos, como termos jurídicos e de marinharia, cujo sentido vem esclarecido em notas oportunamente dispostas.

Com a preocupação maior de que este novo texto contivesse apenas palavras de utilização atual e de conhecimento amplo, tivemos, em muitas ocasiões, de sacrificar expressões lídimas da língua portuguesa, mas ausentes de nosso vocabulário hodierno.

Não só palavras, mas igualmente expressões, como é o caso, por exemplo, logo no início do Auto, em que o Diabo se refere à “gentil maré”. Belo verso que intuitivamente queríamos preservar, mas atentamos para o fato de que hoje, mesmo em nossa forma escrita, o adjetivo ‘gentil’ configura um sentido mais restrito e que dificilmente o aplicaríamos para qualificar o substantivo “maré”; daí o termos substituído por “mansa”, sem sacrificarmos entanto a beleza do verso que ganhou algo com a aliteração: “pois temos mansa maré”. Esse escrúpulo nos levou a vetar, por exemplo, palavras como “oxalá”, atualmente à margem da língua falada, que substituímos por “tomara” ou outra expressão equivalente mas de amplo trânsito no linguajar de agora.

Outro ponto fundamental: embora procurássemos manter o termo original sempre que ele correspondesse ao que usamos hoje no Brasil, não nos acanhamos em substituí-lo por sinônimos quando o texto ganhava em clareza com isto ou quando assim nos obrigava a rima (ex. usamos Satanás em vez de Belzebu). Embora a tradução interlingual busque primordialmente esclarecer o significado de termos e/ou expressões arcaizadas, nossa postura foi mais ampla ao nos colocarmos diante do texto vicentino como se ele estivesse todo escrito numa língua realmente diversa da nossa, cujos termos requeressem a sua decodificação um a um. Por sorte, no caso, essa identificação, na grande maioria dos casos, correspondia integralmente ao termo original, daí ter sido possível conservar uma infinidade de versos totalmente vicentinos.

Embora, em muitos momentos, essa substituição (ou tradução) dos termos pareça bastante fácil ou imediata (por ex. em vez de parvo=tolo, em vez de onzeiro=agiota), há casos bastante problemáticos em que as expressões originais se reportam a significados, compreensíveis para o leitor da época, mas inteiramente abstratos para o leitor atual. Veja-se, por exemplo, a estrofe 35, que diz logo no primeiro verso: Sapateiro da candosa, seguido de uma enxurrada de esconjuros lançados pelo Tolo contra o Diabo. Para o leitor, numa nota ao fim do livro, será esclarecido o significado da expressão e ele ficará sabendo que o “Sapateiro da candosa” era uma alcunha do demônio, pois “candosa” é o mesmo que pata de animal e, na tradição da época, o Diabo teria posto calçados nas patas dos asnos para que parecesse humano aquilo que é animal. Mas para o ouvinte de hoje, que desconhece tais significados e sem acesso às notas, este terá que se contentar com equivalências, ou seja, outras imprecações de entendimento imediato, nas quais, embora estejam ausente os significados originais, persiste o sentido da ofensa, o que mais importa, aliás, no decurso daquela ação.

Cuidou-se ainda de evitar o tratamento vós, hoje praticamente à margem da língua falada e escrita no Brasil, substituindo-o por tu e às vezes mesmo por você. Essa variedade se encontra no próprio texto vicentino, em que, na estrofe 7, se diz: “Embarca, ou embarcai”, deixando claro que o Diabo hesita em dar ao Fidalgo um tratamento (pelo menos lingüístico) superior.

Tais preocupações, no entanto, não se refletiram na qualidade dos versos que espelham a observância rigorosa da estrutura original e o respectivo esquema de rimas. A propósito, diga-se que o auto está composto de oitavas (107 estrofes de oito versos) com rimas que obedecem ao esquema abbaacca, ou seja, em que o primeiro, o quarto, o quinto e o oitavo versos têm a mesma rima, e em que o segundo e o terceiro, bem como o sexto e o sétimo têm rimas diversas e paralelas (As únicas quebras se deram nas oitavas 48 e 53, em que o autor usou o esquema abbacddc. Embora este último facilitasse grandemente a tradução, só o utilizamos nessas duas estrofes, mantendo nos fieis ao original em todo o poema.) Na estrofe 56, Gil Vicente rimou “espada/ caçada/ nada com a toante guarda; na 58, usou a mesma rima nos versos 2,3,5 e 6 e na 68 nos versos 1, 2, 3, 4 5 e 8. Outras discrepâncias: a estrofe 6 tem 9 versos em vez de 8 e a de número 37 apenas sete. Nas estrofe 26 e 47 há duplicidade de rima, respectivamente “aqui” e “cá”. Como Gil Vicente era muito meticuloso em sua métrica, essas divergências são atribuídas a erros de copistas, mas mesmo assim mantivemos tais medidas na tradução.

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Em 1973, o ex-governador da Guanabara, Carlos Lacerda, cassado em 1968 pela ditadura militar, foi a Recife inaugurar uma filial da Novo Rio, empresa imobiliária e financeira a que se dedicara após ver cassados os seus direitos políticos. Nessa ocasião, o escritor e grande vulto nacional, Gilberto Freyre, especialmente convidado para o evento, não compareceu, fazendo-se representar por seu filho. Não se soube, na época, a razão que levara o grande Mestre de Apipucos a negar a um antigo correligionário o apoio de sua presença num evento social. Muitos anos depois, Lacerda já falecido (maio de 1977), encontrou-se em sua correspondência a carta que segue abaixo, capaz de explicar a ausência de Freyre em razão de sua extrema vaidade ferida.

 

Rio de Janeiro, 28 de junho de 1973.

Ilmo. Sr.

Dr. Gilberto Freyre

Apipucos

50.000 – Rcife, PE.

Gilberto,

Recebi, de volta de viagem, a sua carta. Parece que você tomou a peito a queixa que fiz pela sua ausência na recepção de Novo Rio em Recife. É claro, e ficou dito, que seu filho o representou como ninguém poderia mais. Mas, fique também claro que não tive mágoa pela ausência, senão por não ter, com ela, oportunidade de vê-los, a você e a Madalena. No mais, no bad feelings, pois acho que você tem mais do que fazer do que ir a cocktails formais; eu por mim não vou a nenhum, salvo por obrigação.

Mas, a propósito, você estranha que uma enciclopédia dirigida por mim e editada pelo José Olympio dedique menos linhas ao autor de “Casa Grande & Senzala” do que a outros, como Jorge Amado,  por exemplo. Devo-lhe, pois, uma explicação. Não adianta dizer que a importância dada a um autor, numa enciclopédia, não se mede somente pelo número de linhas. Mas, se medisse, você veria que as 24 linhas que lhe são dedicadas são excedidas em 8 linhas pelo verbete Jorge Amado porque: (1) a lista de obras de Jorge é mais numerosa — refiro-me à lista e não à importância — é mais numerosa do que a sua. Uma linha é dedicada a dizer que ele é primo de Gilberto Amado. Em nenhuma linha está dito que ele escreveu obra fundamental da literatura brasileira. No verbete Gilberto Freyre está dito esta elementar verdade: “renovador das bases do estudo da formação da sociedade no Brasil com Casa Grande & Senzala, obra fundamental da moderna sociologia brasileira”, etc.      

Mas, a explicação vai mais longe. Fui abordado há tempos pelo então diretor de uma editora / (não o José Olympio) que me pediu para rever uma enciclopédia. Depois que aceitei a incumbência, verifiquei que os colaboradores já haviam sido convidados e que, na realidade, tratava-se de acrescentar uns verbetes brasileiros numa enciclopédia de última ordem, inglesa, mas péssima. Era tarde para recuar, mas cedo para tentar corrigir a improvisação e a verdadeira impostura que resultaria desse processo. Trabalhei durante algum tempo sozinho, até que consegui uns poucos colaboradores de minha confiança, que afinal se resumiram no Ivo Barroso, um sujeito realmente extraordinário de seriedade e dedicação. Revimos tudo o que era humanamente possível. Escrevi à coordenadora da obra, uma senhora intratável, mais de 1.000 memorandos, dos quais tenho cópia para lhe mostrar no dia em que você quisesse. Para Psicologia haviam chamado um professor behaviorista que, por isto, e ignorando tudo sobre os deveres de uma enciclopédia, não queria dar importância à obra de Freud, Jung, etc. Para História do Brasil, um professor que chamava a Inconfidência Mineira de Conspiração Mineira— porque, dizia ele, inconfidência era o termo dos reinóis contra os nacionalistas. Em suma, vivi dias de absoluto horror pela incumbência que aceitara. Fiz o que pude para melhorar a obra, rever, acrescentar, cortar coisas como o verbete no qual uma professora de Filosofia dizia que Abelardo “sofrera grave dissabor” por seu amor a Heloísa – o dissabor, como você sabe, consistiu em que o tio da Heloísa, o bispo, mandou castrar o filósofo.

 

         Finalmente, convencido de que a enciclopédia iria vender pouco, fiz o que pude para me desincumbir da tarefa, até como exercício para um dia trabalhar noutra, mais organizada, mais planejada e melhor executada. Eis senão quando a editora faz um acordo com  o José Olympio, para venda da obra – e ao que parece tem vendido muito. Teve, então, uma repercussão inesperada. Resta perguntar como é que você colaborou numa obra que sabia fraca? Para, quando possível, melhorá-la. Depois, porque a não ser a Delta Larousse nenhuma outra no Brasil é tão melhor do que essa. (Não imagina quantos verbetes cortei que eram cópias da Delta Larousse, pela simples razão de que alguns colaboradores eram os mesmos e não se pejavam de copiar convencidos de que as duas iam sair ao mesmo tempo – o que não se deu, afinal). Em suma, Gilberto, esta explicação talvez não satisfaça, mas é a que tenho para lhe dar. Mando-as em caráter particular, pois o assunto não merece mais – e seria maldade decepcionar gente que agiu de boa fé, apenas não teve discernimento bastante para convidar uma equipe de colaboradores mais homogênea e mais compenetrada das responsabilidades de escrever verbetes para enciclopédia. Basta dizer que, para Sociologia, não havia colaborador especializado… enquanto para literatura havia vários, todos com veleidades de crítico literário, o que obrigou-nos a cortar, emendar, rasurar, etc. para reduzir a um resumo objetivo cada verbete. Houve exceções notáveis, como a de Roberto Teixeira Leite, em Artes Plásticas. Mas, poucas. Daí as disparidades, as impropriedades e, principalmente, a ausência de um plano. Consegui dilatar de uns poucos meses para mais de um ano o prazo de elaboração – e ainda assim…

         Um abraço do Carlos Lacerda

 

P.S. O que não disse, porque não vem ao caso, mas talvez acentue a boa fé com que trabalhei: não me dou com o Jorge desde o tempo do pacto teuto-soviético.     

 

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