Feeds:
Posts
Comentários

Posts Tagged ‘Ettore Schmitz’

Ettore Schmitz nasceu em Trieste a 19 de dezembro de 1861, numa bela e confortável casa da rua do Aqueduto nº 10 (hoje rua XX de Setembro, 16), filho de Francesco e Allegra Schmitz, ele, judeu de origem húngara, ela, italiana. O casal teve dezesseis filhos e Ettore será o quinto dos oito que sobreviveram.
Embora em casa se fale o dialeto italiano de Trieste e se viva à italiana, Francesco para efeitos de instrução só acredita nas escolas alemãs. Por isso Ettore foi enviado em 1874 para o colégio de Segnitz, na Baviera, onde permaneceu interno durante três anos. Apaixonado pela leitura, devora Schiller, Hauff, Körner, Heine, Shakespeare, Jean-Paul Richter e Turguéniev, sem deixar no entanto de namorar a neta do reitor, a bela Anna Herz. Durante toda a sua vida e mesmo depois de casar-se, Ettore sempre se mostrará sensível ao fascínio das mulheres, fazendo delas um dos temas persistentes de sua obra literária.
Obrigado a regressar a Trieste, vem embriagado de literatura e só pensa em escrever, não se sentindo inclinado para o comércio. Mas, em consequência da ruína financeira do pai, vê-se obrigado a empregar-se na filial triestina do Banco União de Viena, onde exerce as funções de correspondente em línguas estrangeiras. Nos momentos de folga, lê, escreve e fuma muito. O irmão Elio, seu confidente, irá consignar em seu diário os primeiros passos do futuro escritor, mas não conhecerá as glórias de Ettore, pois morre de nefrite a 29 de setembro de 1886, marcando profundamente a sensibilidade do irmão. Como que para preencher o vazio deixado pela morte de Elio, Ettore toma-se de amizade pelo pintor Umberto Veruda, que, pelo menos em parte, compensará, com sua riqueza interior de artista e seu devotamento, a perda do irmão.
Em 1887-91, Ettore Schmitz começa a escrever: primeiro uma novela intitulada Uma Vida, cujo pano de fundo é o ambiente bancário em que trabalha. Além disso, colabora com o jornal O Independente, onde publica seus contos em capítulos.
Em 1892, Francesco Schmitz, o pai, falece, e no enterro Ettore volta a encontrar Livia Veneziani, sua prima em segundo grau, com quem dá início a uma aventura sentimental que durará para sempre. Neste mesmo ano, no outono, publica seu primeiro livro (Uma Vida), com o pseudônimo Italo Svevo, que exprime, por assim dizer, sua dupla cidadania cultural, italiana e alemã, duplicidade sócio-cultural que o marca a fundo.
Em fins de 1895, morre a mãe, Allegra; em dezembro, Ettore pede Livia em casamento. Pretende dedicar-se à dramaturgia, escrevendo, nesse período, várias peças para o teatro. O casamento realiza-se em 1896, não sem transtornos. A família de Livia se opõe relutante à união da filha, que é católica, com um judeu, embora não praticante do judaísmo; além disso, Ettore é mais velho 13 anos que Livia; e, mais que tudo, não passa de um pobre empregado bancário, cujo pai faliu, ao passo que o sogro é um bem sucedido industrial, inventor da fórmula química de vernizes e tintas resistentes à maresia, com as quais se pintavam os cascos dos navios, invenção que proporcionou riqueza à família, administrada por sua poderosa sogra.
Em 1897 nasce a única filha do casal, Letizia. Ettore continua a trabalhar no banco e, para melhorar o salário, dá aulas noturnas de correspondência alemã e francesa no Instituto Comercial Revoltella, além de se tornar redator noturno do jornal Piccolo della sera. Adepto fervoroso do Irredentismo (movimento italiano de reivindicação, depois de 1870, dos territórios que tinham permanecido como possessões da Áustria), Ettore mal suporta o domínio austríaco, pois acredita, como vários outros judeus, que Viena era culpada de tolerar, se não mesmo de encorajar, o anti-semitismo nas regiões germânicas do Império Austro-Húngaro, o que levara a rica e influente minoria judaica triestina a assumir uma atitude pró-itálica. Embora sob a vigilância da autoridade dominante, não deixa de levar uma vida cheia de atividades jornalísticas e de publicar seu segundo livro, Senilidade, que, como o primeiro, encontra por parte da crítica e do público a maior indiferença.
Desiludido da literatura, Svevo resolve deixar o banco e aceitar o convite do sogro para trabalhar em sua fábrica de tintas e vernizes. Em função de sua nova atividade, viaja pela Alemanha e a Inglaterra e começa a se interessar pela língua inglesa. Sua intenção de abandonar a literatura é meramente de fachada, talvez para agradar o sogro: às escondidas, continua a escrever fábulas e contos e a esboçar projetos de comédias.
Em 1906, morre seu dileto amigo, o pintor Veruda, que lhe inspirara o personagem Stefano Balli de Senilidade. Nessa mesma época, Svevo faz conhecimento (e posteriormente amizade) com o então professor James Joyce, que viera ensinar inglês na Escola Berlitz de Trieste. Joyce irá, por sua vez, inspirar-se em Svevo para criar a figura do judeu Leopold Bloom, do Ulisses, e (pelo menos no nome de) sua mulher, Livia Veneziani, para a de Livia Plurabelle, do Finnegans Wake.
Em 1918-19, Svevo passa a interessar-se pela psicanálise e traduz o livro de Freud sobre a interpretação dos sonhos; começa, nessa mesma época, a escrever A Consciência de Zeno.
Quando finalmente o publica, em 1923, sente que, dessa vez, o sucesso não lhe será negado, mas o livro só obtém uma crítica azeda e injusta de Silvio Benco, no Piccolo della sera. Joyce, que estava nessa ocasião em Paris, tratando da publicação do Ulisses, consegue interessar o crítico Benjamin Crémieux e o tradutor Valéry Larbaud no trabalho de Svevo, os quais, entusiasmando-se ambos pelo livro, se dispõem a introduzi-lo na França, onde Svevo é apresentado como “um Proust italiano”. Em novembro-dezembro de 1925 e janeiro de 1926, surgem os primeiros artigos italianos consagratórios da genialidade de Svevo, assinados pelo poeta Eugenio Montale. Mas Svevo não irá saborear por muito tempo o êxito alcançado tão tardiamente: a 13 de setembro de 1928 morre num acidente de automóvel, ao voltar de um passeio em companhia da esposa.

Read Full Post »