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OS POETAS ESQUECIDOS
Nos meus tempos de estudante eram comuns os chamados “cadernos de versos” em que transcrevíamos aqueles sonetos que considerávamos “de primeira linha”. Lá estavam, seguramente, o Alceu Wamosy, com o seu “Ó tu que vens de longe, ó tu que vens cansada”; o Aníbal Teófilo, autor de um único soneto, “A Cegonha”, que terminava em “Ver a dúvida humana debruçada/ Sobre a angústia infinita de si mesma!”; o indefectível Júlio Salusse com os seus cisnes, “A vida manso lago azul algumas/ vezes, algumas vezes mar fremente”; sem faltar o Padre Antônio Tomaz, filosofando : “Quando partimos no vigor dos anos/ Da vida pela estrada florescente” e o sempre declamado Nilo Bruzzi a lamentar “Pobre de quem, como eu, vê que, infeliz,/ Teve todas aquelas que o quiseram,/ Mas nunca teve aquela que ele quis!…” Eram os nossos poetas exemplares, só mais tarde desbancados pelo Guilherme de Almeida e o Menotti Del Picchia, e finalmente enterrados quando Manoel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade se impuseram. Quem hoje, com menos de 50 anos, ainda se lembra daquele (imortal?) “Nascemos um para o outro, dessa argila/ de que são feitas as criaturas raras?” Ah, fugit irreparabile tempus!
E OS POETAS ESQUISITOS
E havia também poetas com nomes extravagantes, como Judas Isgorogota, Sosígenes Costa, Euríclides Formiga, Cleômenes Campos, Junquilho Lourival, Emiliano Perneta, Otoniel Beleza, Pethion de Villar, Petrarca Maranhão, Pretextato da Silveira, Segundo Wanderley… Se Judas Isgorogota e Pethion de Villar eram evidentes pseudônimos, respectivamente de Agnelo Rodrigues de Melo, alagoano, e de Egas Muniz Barreto de Aragão, baiano, todos os outros – pasmem! — são nomes verdadeiros, Aliás, o Egas Moniz nem precisava daquele Pethion de Villar, pois seu próprio nome já soa como pseudônimo. Todos esses estranhos/esquecidos compuseram sonetos considerados “de primeira linha” em seu tempo e figuram em várias antologias e florilégios até hoje. Quanto aos temas, eram em geral versos de amor, de conquista ou de saudade, vez por outra apelando para uma filosofia ingênua. Mas há o caso daquele Segundo Wanderley (1860-1909), poeta abolicionista norte-rio-grandense, que escreveu um incrível soneto intitulado “Amor de Filha”, dedicado a Pedro Avelino (?), personagem que deu nome a uma cidade do Rio Grande do Norte, mas sobre o qual ainda não consegui nenhum dado. Com sorte, voltarei ao assunto.
Sr. Ivo,
Como vai? Diria que “com – nossa – sorte” o Sr. voltará ao assunto. Pois veja, eu, que me dizem: poeta, desconheci vários dos nomes citados (vou procurá-los agora, claro. E agradeço)… Vejo que o tempo presente coloca no limbo gente de grande qualidade. Lembra-se, não muito longe do fim do século XX (1980/90) a grande “descoberta” de João do Rio? Hoje pode parecer natural aos leitores mais sérios… Mas não era até pouca décadas atrás; antes, era preciosidade de poucos sortudos que o sabiam valor.
Mudando o rumo da prosa: agradeço sua presença no blog; esteja certo que só o engrandeceu. Mas… e estou muito sem graça (o Sr. sabe há mais tempo que eu como são os mineiros) de lhe dizer algo… Porém ele irá assim mesmo:
Sr. Ivo, eu nunca li um hai-kai na vida. Ou mesmo poetas da região onde nasceu esta forma/fôrma de poesia. Se li, por cá, algum ocidental que a praticasse… não cheguei a “pegar” um – poema – pela frente; não deste tipo. Claro, respeito o Sr. não gostar da modalidade em questão; eu mesmo não gosto. Mas entendo que houve ali um erro (?) de leitura, pois veja: o que sempre pretendi em meus poemas mais curtos foi inspirado no mini-poema, no poema-piada dos modernistas de primeira hora; e em Quintana a posteriori. Aliás… “a posteriori” duas vezes: ele veio depois de eu ler os de 1922 e na obra do sulista… os livros mais tardios dele. “Caderno H” p.ex. é um espetáculo de lirismo. Logo, se lhe interessar aos desejos e ao seu tempo (tempo, hoje também tornou-se determinante no que queremos, infelizmente…) passe lá e dê uma olhadela… Se os textos tiverem “engenho e arte” para merecer serem relidos, claro…). Se entendermos “lirismo” ao pé da letra OU como querem os teóricos literários (turma muito perigosa!), não vejo Vinícius como nosso maior lírico e sim, Quintana.
Quando eu postar textos “maiores” no blog – meu tempo anda meio sem tempo – eu passo e o aviso. Seria uma satisfação saber que tomou conhecimento de meus textos. Aliás… é sempre complicado vir aqui: nunca imaginei trocar palavras com alguém que guardo tanta admiração. Mas… a vida tem esta estranha mania de acontecer, não é? E o Sr. ainda me responde! Ê, vida! Às vezes você acontece demais, viu?
Aguardo um “toque” do Sr..
Meu mais carinhoso abraço,
Signa: Gustavo Goulart.
Judas Isgorogota, Sosígenes Costa, Euríclides Formiga, Cleômenes Campos, Junquilho Lourival, Emiliano Perneta, Otoniel Beleza, Pethion de Villar, Petrarca Maranhão, Pretextato da Silveira, Segundo Wanderley. Maravilha, esta série de nomes. Tão criativos, fortes, quanto os que Guimarães Rosa colheu em Minas ( dele e sua ) pro Grande Sertão: veredas. E que belos trechos, de vários deles, você colheu! Ficaram. Quer queira, quer não, ficaram.