Uma rápida pesquisa na seção “Books” da Amazon mostra que neste momento estão à venda cerca de 33 livros “inspirados” nas obras de Jane Austen, a maioria dos quais tendo Mr. Darcy como personagem principal (My dearest Mr. Darcy, de Sharon Lathan; The other Mr. Darcy, de Monica Fairview; Mr. Darcy´s Great Escape, de Marsha Altman; etc. etc.). É a florescente onda dos aproveitadores da popularidade de Jane Austen, adquirida graças ao seu talento de escritora que soube dar vida a personagens que nos parecem reais, como esse Mr. Darcy, de Pride and Prejudice, sobre quem as aves de rapina literária deram agora de endereçar seus botes. Houve um tempo, bem recente, em que tais avanços se fizeram mais sobre Emma, a casamenteira, e seu finalmente esposo Mr. Knightley. De um modo geral, essas continuações são rigorosamente inócuas, não passando de historinhas medíocres destinadas a um público não literário, consumidor de best sellers. Contudo, os cultores tradicionais de Jane Austen se sentiram ultrajados pela maneira com que certa Miss Tennant retratou Emma Woodhouse em seu mais recente “livro”.
Como no caso de Lady Rachel Billington, autora de Perfect Happiness, Emma (coincidência?!) Tennant não é uma desconhecida qualquer à cata de uns trocados: é meia-irmã de Lord Gleconner, o “amigo” da princesa Margareth (gente boa!). Já faturou bastante especializando-se na “arte” de fazer sequelas: publicou follow-ups de Gone with the wind, Tess of the d´Urbervilles, Sense and Sensibility; e embora seu Pemberley, pretensa continuação de Pride and Prejudice, tenha sido duramente criticado pela imprensa britânica, entre outras coisas por exibir referências modernas à gravidez e ao aborto, o “livro” vendeu cerca de 150 mil exemplares. Mas parece que o caso deste seu último, Emma in love, é ainda mais grave, pois uma forte repulsa se manifestou nos fãs tradicionais ingleses de Jane Austen, que se sentiram ultrajados com o retrato que Miss Tennant “elaborou” de Emma.
A ação do pastiche se passa após o enlace de Emma com o Mr. Knightley, que teria sido, segundo a autora, um “casamento branco” (“não se consumou” do ponto de vista sexual); mas, para manter as aparências, os dois “se acomodam” para não desencantar o pai, Mr. Woodhouse (ainda vivo no relato). Em busca de afeto, Emma se apaixona perdidamente pela glamorosa baronesa Elise d´Almane (criação de Miss Tennant). Como não li nem vou ler o livro e só conheço as declarações de Miss Tennant feitas à imprensa dias antes do lançamento do livro, não sei se ele contém cenas explícitas dessa paixão. Sei que os editores anunciaram o livro como sendo “a lesbian Emma” e que contém “heart-fluttering innuendos” (aproximadamente “insinuações arrepiantes”). Miss Tennant explica que “Elise é a pessoa mais encantadora que Emma jamais conheceu. Emma se apaixona e descrevo seus fortes e ardentes sentimentos por ela. Se tiveram um caso, não vou dizer. Não quero revelar o segredo. Eu quis manter-me dentro do estilo de Jane Austen e por isso seria um erro escrever abertamente sobre sexo. Posso dizer que há uma cena muito ardente lá pelo fim do livro”.
Diante da indignação e revolta dos leitores e da crítica, inclusive de sua amiga e colega de pilhagens austenianas, a já nossa conhecida Lady Rachel Billington, que disse ser “uma tolice (silly really) sugerir que Emma era lésbica”, Miss Tennant mantém-se obstinada em sua defesa: “Não tomei quaisquer liberdades. Emma é sabidamente o livro lésbico da obra de Jane Austen. No original, Emma absolutamente adora Harriet Smith, sua protegida e passa grande parte do tempo em sua companhia. Há uma passagem em que descreve como os meigos olhos azuis de Harriet são justamente o tipo de olhos que Emma adora. Não sou a primeira a levantar a hipótese de lesbianismo. Vários estudiosos já encontraram muitos indícios em Emma.”
O público inglês já se encarregou de execrar o livro. Espero que nenhum editor oportunista queira lançá-lo no Brasil, para escárnio dos fieis leitores de Jane Austen, que certamente, depois deste absurdo, irão reler com o carinho de sempre, a maravilhosa, encantadora (todos os lugares comuns possíveis, porque válidos) história da meiga e casamenteira Emma Woodhouse. Essa Miss Tennant devia escrever era a sua autobiografia.
Este “Emma” eu não tinha conhecimento. É mesmo um horror!
Mas já li sobre outras sequencias e o mote é sempre sexo e de forma mais explícita, algo que foge, não só da literatura de Jane Austen como da época.