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Posts Tagged ‘Rimbaud’

adormecida

Quando estava traduzindo a poesia completa de Rimbaud, lembro-me que um de seus primeiros poemas (ele tinha 16 anos em 1870) chamou-me a atenção pela beleza da descrição, do décor e de sua habilidade em manejar os versos de oito sílabas. Além disso, algo me dizia que o tema versado – uma jovem que dorme sendo observada – não me era estranho e que já o teria visto em obra alheia.

Eis o original de Rimbaud

Rimb_cores_jpg

PREMIÈRE SOIRÉE

– Elle était fort déshabillée
Et de grands arbres indiscrets
Aux vitres jetaient leur feuillée
Malinement, tout près, tout près.

Assise sur ma grande chaise,
Mi-nue, elle joignait les mains.
Sur le plancher frissonnaient d’aise
Ses petits pieds si fins, si fins.

– Je regardai, couleur de cire,
Un petit rayon buissonnier
Papillonner dans son sourire
Et sur son sein, – mouche au rosier.

– Je baisai ses fines chevilles.
Elle eut un doux rire brutal
Qui s’égrenait en claires trilles,
Un joli rire de cristal.

Les petits pieds sous la chemise
Se sauvèrent: “Veux-tu finir!”
– La première audace permise,
Le rire feignait de punir !

– Pauvrets palpitants sous ma lèvre,
Je baisai doucement ses yeux:
– Elle jeta sa tête mièvre
En arrière: “Oh! c’est encor mieux!…

Monsieur, j´ai deux mots à te dire…
Je lui jetai le reste au sein
Dans un baiser, qui la fit rire
D´un bon rire qui voulait bien…

Elle était fort déshabillée
Et des grands arbres indiscrets
Aux vitres jetaient leur feuillée
Malinement, tout près, tout près.

E como o traduzi:

PRIMEIRA TARDE

Era bem leve a roupa dela
E um grande ramo muito esperto
Lançava as folhas na janela,
Maldosamente perto, perto.

Quase desnuda, na cadeira
Cruzava as mãos, e os pequeninos
Pés esfregava na madeira
Do chão, libertos, finos, finos.

– Eu via pálido, indeciso,
Um raiozinho em seu gazeio
Borboletear em seu sorriso
– Mosca na rosa – e no seu seio.

– Beijei-lhe então os tornozelos.
Deu ela um grito inatural
Que se esfolhou em ritornelos,
Um belo riso de cristal.

Os pés na camisola, arisca,
Logo escondeu: “Queres parar!”
– Primeira audácia que se arrisca
E o riso finge castigar!

Sinto-lhe os olhos palpitantes
Sob os meus lábios. Sem demora
Num de seus gestos petulantes,
Volta a cabeça: “Ora essa agora!…

Escuta aqui que vou dizer-te…”
Mas eu lhe aplico junto ao seio
Um beijo enorme, que a diverte
Fazendo-a rir agora em cheio…

Era bem leve a roupa dela
E um grande ramo muito esperto
Lançava as folhas na janela,
Maldosamente perto, perto.

Um dia, dei com o tal outro poema, quando examinava a obra do nosso Castro Alves:

Castro_Alves

ADORMECIDA

UMA NOITE, eu me lembro… Ela dormia
Numa rede encostada molemente…
Quase aberto o roupão… solto o cabelo
O pé descalço do tapete rente.

´Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina…
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos – beijá-la.

Era um quadro celeste!. . . A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia …
Quando ela serenava… a flor beijava-a …
Quando ela ia beijar-lhe… a flor fugia…

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavarn duas cândidas crianças…
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se…
Mas quando a via despeitada a meio,
P’ra não zangá-la… sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio …

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
“Ó flor! – tu és a virgem das campinas!
“Virgem! – tu és a flor da minha vida!…”

                                                                                S. Paulo, novembro de 1868

Vejam as semelhanças: a cena ocorre ao cair da noite (soirée) em ambos os casos; uma jovem sumariamente vestida (fort déshabillée), seminua (mi-nue), o roupão quase aberto, está reclinada numa rede (em Castro) e numa poltrona (em Rimbaud). Grandes árvores indiscretas (em R.) e grandes ramos indiscretos de um jasmineiro (em C. A) penetram pela janela (em ambos) aproximando-se da face da jovem como para beijá-la. E há o detalhe dos pés descalços que roçam o assoalho (em R.) e ficam rentes ao tapete, logo ao chão (em Castro). Mas a partir daí as semelhanças acabam: o nosso poeta permanece sonhador, contemplando a jovem (virgem), ao passo que o matreiro Rimbaud beija-lhe os tornozelos, e, sem parar por aí, acaba por beijar-lhe o seio. A impressão é que se trata de um poema e sua tradução ou de duas traduções de um mesmo poema.

Ora sabemos que Rimbaud escreveu Première Soirée em maio/junho de 1870 com o título de Trois baisers (Três beijos) e conseguiu publicá-lo em 13 de agosto do mesmo ano no jornal satírico La Charge. Quanto a Castro Alves, também sabemos que o poema foi escrito em São Paulo em novembro de 1868 (a data está consignada no final dos versos) e publicado em seu primeiro livro Espumas Flutuantes em 1870.

Claro que, embora sendo ambos do mesmo ano, nem Rimbaud leu Castro Alves nem este sabia sequer da existência de Rimbaud. Aliás, os poemas de Rimbaud só começaram a ser conhecidos de uma pequena elite literária na França depois que Verlaine publicou em 1884 o seu Les poètes maudits com a transcrição de uns poucos poemas de Rimbaud, Tristan Corbière e Stéphane Mallarmé. E Castro Alves morreu um ano depois da publicação de seu livro em 1871.

Musset

A conclusão lógica era que ambos haviam se inspirado em um mesmo poema ou que o assunto não passava de clichê da época. Foi a edição fac-similar de Espumas Flutuantes, feita pela Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro em 2011, que me deu a pista. O poema de Castro Alves vem antecedido de uma epígrafe, de uso muito comum na época:

Ses longs cheveux épars la couvrent tout entière.
La croix de son collier repose dans sa main,
Comme pour témoigner qu’elle a fait sa prière,
Et qu’elle va la faire en s’éveillant demain.

                                ALFRED DE MUSSET

(Em tradução literal: Seus longos cabelos esparsos cobriam-na inteiramente / A cruz de seu colar repousa em sua mão / Como para testemunhar que ela fez sua prece /E que irá fazê-la de novo ao despertar.)

Ali estava a fonte: ambos se inspiraram num poema de Alfred de Musset (1810-1897), um dos poetas românticos franceses de maior projeção em sua época. E qual seria o poema? Depois de alguma pesquisa, cheguei a Rolla (1833), poema declamatório que procura reinterpretar o mito de Don Juan. Nele há a descrição de uma adolescente adormecida (Elle dort toute nue et la main sur son cœur) e também dos ditos ramos indiscretos (Regardez cette chambre et ces frais orangers,/ Ces livres, ce métier, cette branche bénite/ Qui se penche en pleurant sur ce vieux crucifix), uma virgem, como em Castro Alves, o nosso poeta que conhecia bem a obra de Musset e foi mesmo seu tradutor. O poema é um rolo só e esse Rolla do título é uma espécie de Don Juan francês que está prestes a seduzir a jovem, vendida pela mãe. Impossível descrever todo esse lio. Mas, onde entra aqui a criatividade de Rimbaud? Eu sabia bem que ele abominava a poesia de Musset. Como seria então possível que se inspirasse nela para compor seus poemas? É que Rimbaud começou a fazer versos imitando Hugo, Théodore de Banville e Alfred de Musset. Mas em sua vertiginosa evolução poética logo ultrapassa seus modelos e passa a criticá-los. Em 24 de maio de 1870, por exemplo, expede uma carta laudatória a Banville, pedindo-lhe a publicação de seus versos Credo in unum (“Caro Mestre, ajude-me: Levante-me um pouco: sou jovem: estenda-me a mão”), mas logo em 14 de julho de 1871 escreve de novo ao mesmo Banville criticando-lhe a “poesia inócua” e instigando-o a escrever uma “poesia utilitária”; e ainda no fim desse mesmo ano, já em Paris, levado por Verlaine a conhecer o Mestre, acaba por considerá-lo un vieux con! (algo como Um velho babaca!). Quanto a Musset, apesar de lhe ter imitado a dicção oracular e mitológica, o que deseja realmente provar com seu Credo in unum (depois rebatizado como Soleil et chair – Sol e carne) é que ele, Rimbaud, é capaz de fazer MELHOR, de enriquecer o quadro, de suplantar o mestre. A mesma coisa deve ter acontecido com A Primeira Tarde, em que o tema tem um tratamento eroticamente superior ao do modelo. Aliás, sobre Musset, ele já dissera em 15 de maio de 1871 numa carta a seu amigo Paul Demeny: “Musset é catorze vezes execrável para nós, gerações sofredoras e obcecadas pelas visões, insultadas por sua angelical preguiça! Ó! Os contos e provérbios insípidos! Ó as noites! Ó Rolla, ó Namouna, ó a Taça! Tudo é francês, ou seja, odiento ao grau supremo; francês, não parisiense (…) Qualquer jovem empregado de mercearia é capaz de desembuchar uma apóstrofe à la Rolla; todo seminarista traz suas quinhentas rimas no segredo de um caderno (…) Musset não soube fazer nada: havia visões por trás da gaze das cortinas: ele fechou os olhos para elas.” E parece nos dizer: Mas eu, eu sei ver além! Vejam só o que eu consigo fazer com a história da menina adormecida, inocentemente fustigada pelos ramos indiscretos!!!

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CONVITE DA GAVETA

A GAVETA DO IVO CONVIDA SEUS LEITORES RESIDENTES NO RIO A ASSISTIREM À PALESTRA SOBRE OS LIVROS DE RIMBAUD QUE SERÁ PRONUNCIADA NO CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL, NA RUA PRIMEIRO DE MARÇO, ÁS 18;30 DO DIA 22.11, PRÓXIMA QUINTA-FEIRA

POR OCASIÃO DA ENTREGA OFICIAL DOS LIVROS DE RIMBAUD DOADOS PELO CONFERENCISTA À BIBLIOTECA DAQUELA ENTIDADE CULTURAL.

SERÁ NO 5º ANDAR DO CCBB-RIO E A ENTRADA É FRANCA. VENHAM.

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Um dos mais famosos poemas de Rimbaud, Os poetas de sete anos, é apresentado aqui em três momentos: o original francês, a tradução que dele fiz e consta do primeiro volume de suas obras completas editadas pela Topbooks, e um poema-paráfrase-paródia de minha autoria, contando os delírios e aflições de um tradutor de Rimbaud. Nesse poema procurei observar a mesma estrutura do poema traduzido, quase mantendo as mesmas rimas e preservando os audaciosos enjambements que caracterizam o texto original.

LES POÉTES DE SEPT ANS
À M. Paul Demeny

Et la Mère, fermant le livre du devoir,
S’en allait satisfaite et très fière, sans voir,
Dans les yeux bleus et sous le front plein d’éminences,
L’âme de son enfant livrée aux répugnances.

Tout le jour il suait d’obéissance; très
Intelligent; pourtant des tics noirs, quelques traits
Semblaient prouver en lui d’âcres hypocrisies.
Dans l’ombre des couloirs aux tentures moisies,
En passant il tirait la langue, les deux poings
À l’aine, et dans ses yeux fermés voyait des points.
Une porte s’ouvrait sur le soir: à la lampe
On le voyait, là-haut, qui râlait sur la rampe,
Sous un golfe de jour pendant du toit. L’été
Surtout, vaincu, stupide, il était entêté
À se renfermer dans la fraîcheur des latrines:
Il pensait là, tranquille et livrant ses narines.

Quand, lavé des odeurs du jour, le jardinet
Derrière la maison, en hiver, s’illunait,
Gisant au pied d’un mur, enterré dans la marne
Et pour des visions écrasant son oeil darne,
Il écoutait grouiller les galeux espaliers.
Pitié! Ces enfants seuls étaient ses familiers
Qui, chétifs, fronts nus, oeil déteignant sur la joue,
Cachant de maigres doigts jaunes et noirs de boue
Sous des habits puant la foire et tout vieillots,
Conversaient avec la douceur des idiots!
Et si, l’ayant surpris à des pitiés immondes,
Sa mère s’effrayait; les tendresses, profondes,
De l’enfant se jetaient sur cet étonnement.
C’etait bon. Elle avait le bleu regard, — qui ment!

À sept ans, il faisait des romans, sur la vie
Du grand désert, où luit la Liberté ravie,
Forêts, soleils, rives, savanes! – Il s’aidait
De journaux illustrés où, rouge, il regardait
Des Espagnoles rire et des Italiennes.
Quand venait, l’oeil brun, folle, en robes d’indiennes,
-Huit ans, – la fille des ouvriers d’à côté,
La petite brutale, et qu’elle avait sauté,
Dans un coin, sur son dos, en secouant ses tresses,
Et qu’il était sous elle, il lui mordait les fesses,
Car elle ne portait jamais de pantalons;
-Et, par elle meurtri des poings et des talons,
Remportait les saveurs de sa peau dans sa chambre.

Il craignait les blafards dimanches de décembre,
Où, pommadé, sur un guéridon d’acajou,
Il lisait une Bible à la tranche vert-chou;
Des rêves l’oppressaient chaque nuit dans l’alcôve.
Il n’aimait pas Dieu; mais les hommes, qu’au soir fauve,
Noirs, en blouse, il voyait rentrer dans le faubourg
Où les crieurs, en trois roulements de tambour,
Font autour des édits rire et gronder les foules.
-Il rêvait la prairie amoureuse, où des houles
Lumineuses, parfums sains, pubescences d’or,
Font leur remuement calme et prennent leur essor!

Et comme il savourait surtout les sombres choses
Quand, dans la chambre nue aux persiennes closes,
Haute et bleue, âcrement prise d’humidité,
Il lisait son roman sans cesse médité,
Plein de lourds ciels ocreux et de forêts noyées,
De fleurs de chair aux bois sidérais déployées,
Vertige, écroulements, déroutes et pitié!
Tandis que se faisait la rumeur du quartier,
En bas, – seul, et couché sur des pièces de toile
Écrue, et pressentant violemment la voile!

26 mai 1871

OS POETAS DE SETE ANOS

Ao Sr. Paul Demeny

E então a Mãe, fechando o livro de dever,
Lá se ia satisfeita e orgulhosa, sem ver
Em seus olhos azuis, sob as protuberâncias
Da face, a alma do filho entregue a repugnâncias.

O dia inteiro ele suou de obediência; que
Inteligente ! e entanto, uns tiques maus, um quê
Já demonstravam nele acres hipocrisias.
No escuro corredor, junto às tapeçarias
Mofadas, estirava a língua, os punhos fundos
Nos bolsos e, fechando os olhos, via mundos.
Sobre a noite uma porta abria-se: na rampa da
Escada, a resmungar, o viam, sob a lâmpada,
Como um golfo de luz a pender do teto. E no
Verão, abatido, ar estúpido, o menino
Teimava em se trancar no frescor das latrinas
Para pensar em paz, arejando as narinas.

Quando o jardim de trás da casa se lavava
Dos odores do dia e, no inverno, aluarava,
Jazendo ao pé do muro, enterrado na argila,
Para atrair visões esfregava a pupila
E ouvia o esturricar das plantas nas treliças.
Pobre ! para brincar só crianças enfermiças
De fronte nua, olhar vazio que lhes erra
Pela face, escondendo as mãos sujas de terra
Nas roupas a cheirar a fezes, todas rotas,
Falando com essa voz melosa dos idiotas !
E quando o surpreendia em práticas imundas,
A mãe se horrorizava; o menino, profundas
Carícias lhe fazia, a apaziguar-lhe a mente.
Era bom. Ela tinha o olhar azul, — que mente !

Aos sete anos compunha histórias sobre a vida
No deserto, onde esplende a Liberdade haurida,
Florestas, rios, sóis, savanas ! Recorria
A revistas nas quais, encabulado, via
Italianas a rir e espanholas bonitas.
Quando vinha, olhos maus, louca, em saias de chitas,
A filha — oito anos já ! — do operário do lado,
A pirralha infernal, que após lhe haver pulado
Às costas, de algum canto, a sacudir as roupas,
Ele por baixo então lhe mordiscava as popas,
Porquanto ela jamais andava de calçinha.
— Cheio de pontapés e socos, ele vinha
Trazendo esse sabor de carne para o quarto.

Da viuvez invernal dos domingos já farto,
Junto à mesa de mogno, empomadado, a ter de
Recitar a Bíblia encadernada em verde
E a sofrer a opressão dos sonhos maus em que arde,
Já não amava Deus; mas os homens, que à tarde,
Via, sujos, chegando em suas casas baixas,
Quando vinha o pregoeiro, entre ruflar de caixas,
A ler seus editais entre risos e pragas.
— Sonhava as vastidões de prados onde as vagas
De luz, perfumes bons, douradas lactescências
Se movem calmamente e evolam como essências !

E como saboreava antes de tudo arcanas
Coisas, se punha, após baixar as persianas,
A ler no quarto azul, que cheirava a mofado,
Seu romance sem cessa em sonhos meditado,
Cheio de plúmbeos céus, florestas, pantanais,
Flores de carne viva em bosques siderais,
Vertigens, comoções, derrotas, falcatruas !
— Enquanto progredia a agitação das ruas
Embaixo, — só, deitado entre peças de tela
De lona, a pressentir intensamente a vela !

26 de maio de 1871.

OS POETAS DE SETENTA ANOS

Ao Sr. A. Rimbaud

E o Velho, então, fechando o livro do dever,
Exausto e satisfeito ia dormir, sem ver
Que à força de se impor prorrogações horárias
De trabalho, arriscava as frágeis coronárias.

O dia inteiro esteve a traduzir-te; faz-se
Incansável; no entanto, a azulidez da face
Deixa ver claramente acres hipocondrias!
Em meio ao corredor, seguro às esquadrias
Da porta, já sentiu tonteiras, quase a perda
Do equilíbrio, e essa mosca em sua vista esquerda.
A noite no escritório é sempre igual: um foco
De luz dicróica sobre o micro, o mouse, um bloco
De anotações e a tela acesa a piscar… Tarde,
Extenuado, a zumbir o ouvido, a vista que arde,
Antes de se deitar, contudo se demora
No banheiro, onde fica a ler por mais uma hora.

Quando, em plena manhã, na varanda que esplende
Ao sol, por um momento em seu sofá se estende
Olhando para a verde aba das altas palmas,
Tentando refrescar a mente das incalmas
Preocupações da noite, o drama recomeça.

Coitado! Ergue-se e vai correndo a toda pressa
Para o computador, achando que encontrara
A rima que buscou o dia inteiro, a rara,
E se acaso, afinal, a solução lhe brota,
Põe-se a falar sozinho e a rir como um idiota!
Já ninguém o visita: os amigos só pelo
Telefone, receando acaso interrompê-lo,
Chamam pela mulher; perguntam pelo “ausente”;
Ela diz que vai bem, que está dormindo — e mente!

Aos setenta sonhava imprimir em off set
Os versos que escreveste em teu caderno, aos sete,
Cheios de rios, sóis, savanas! — Recorria
A todas edições anotadas que havia
Bem como a traduções inglesas, italianas.
Quando, avançada a noite, exausta das poltronas
— Às duas da manhã — a mulher reclamava
Que assim era demais, ele ainda teimava
Em ficar mais um pouco olhando para a tela
Do micro, a salvar tudo e a sair, enquanto ela
Cansada de esperar, apaga a luz do quarto.
— E o pobre, sem saber que escapara do enfarto,
Dormia com teu livro aberto sobre o peito.

Temia essas manhãs de domingo, o suspeito
Passeio pela praia, o olhar discricionário,
Enquanto abandonava o Livro e o dicionário,
Embora em sua mente, ao caminhar, os visse.
Já não amava o mar, achava uma tolice
A exposição ao sol, aqueles corpos nus
Banhando-se na densa e xaroposa luz
De um êxtase vital que já não compreendia.
— Amava a noite que trocara pelo dia,
As vigílias sem fim, os encontros furtivos
De palavras que não se encontram nos arquivos!

E como preferisse as coisas mais herméticas
Buscando penetrar as alquimias poéticas
Dos versos em que os sons têm cores de aquarelas,
Metia-se no quarto e fechava as janelas
E assim, nesse escafandro em fundas culminâncias,
Via os peixes azuis das rimas e assonâncias,
Das métricas sem par, dos ritmos em conflito!
De volta do mergulho, entre alumbrado e aflito,
Um momento se punha a descansar na cama
De lona, a pressentir longinquamente a fama.

26 de maio de 1994.

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MEU LEGADO DE LIVROS-II

No dia 15/04/2011, declarei aqui neste blog minha intenção de deixar à biblioteca do Centro Cultural Banco do Brasil, na rua Primeiro de Março, no Rio de Janeiro, a minha “rimbaldiana”, ou seja, os 170 livros sobre Rimbaud e sua obra que andei colecionando ao longo da vida. O primeiro foi naquele longínquo 1952 quando adquiri na Livraria da Maison de France o ARTHUR RIMBAUD – POÈTES D´AUJOURDHUI, de Claude Edmonde Magny, das edições Pierre Sehghers, responsável por minha descoberta da prosa revolucionária de UNE SAISON EM ENFER. Em 1966, quando fui pela primeira vez à França, adquiri nos bouqinistes do Sena as POÉSIES, edição popular de Aux Quais de Paris, de capa amarela, que passou a acompanhar-me por todas as residências que tive no Brasil e no Exterior. Ao longo dos anos fui amealhando tudo o que podia sobre Rimbaud e sua criação literária, desde as obras completas nas várias edições francesas, bem como as italianas e de língua inglesa; e uma infinidade de estudos, ensaios, edições críticas, facsimiles, sem falar nas biografias e documentação iconográfica. Agora, dei por concluída a tradução integral da obra de Rimbaud, com o terceiro volume, CORRESPONDÊNCIA, editado pela Topbooks em 2009. Esse trabalho  me tocou profundamente,  pois de novo acompanhei, naquelas cartas, todo o sofrimento de Rimbaud até seu lastimável fim no Hospital de la Concepcion, em Marselha, a 10 de dezembro de 1891. O câncer no joelho, a amputação da perna, toda  essa desgraça, mais que a luminosa trajetória do poeta, me vinha à lembrança cada vez que tirava os olhos da tela de meu computador e via logo atrás, dispostos em duas longas prateleiras da estante, esses livros que amei, que li e reli, que anotei, que percorri página a página em busca de esclarecimentos, comprovações e argúcias críticas que me pudessem ajudar a melhor penetrar a sua obra. Pois acabo de realizar esse meu grande intento.

Ontem, dia 17 de novembro de 2011, a bibliotecária do CCBB veio recolher os volumes doados que passarão a integrar uma estante denominada BIBLIOTECA IVO BARROSO na seção de obras raras daquela instituição. À minha frente agora, só duas longas prateleiras vazias, à espera de hóspedes mais felizes, mas certamente menos geniais. A relação dessas obras vai transcrita abaixo com a informação de que os leitores interessados em compulsar aqueles volumes poderão fazê-lo no âmbito da biblioteca, estando contudo vedado o empréstimo a domicílio. O CCBB pretende fazer um pequeno ato público de entrega desses livros com uma curta palestra sobre o conteúdo deles e sua importância no conhecimento da obra de Rimbaud. A data será oportunamente fixada.

RELAÇÃO DOS LIVROS DOADOS AO CCBB-RIO

1) Rimbaud – Oeuvres Complètes – Rolland de Renéville et Jules Mouquet – Bibliothèque de la Plêiade – 1954

2) Rimbaud – Oeuvres Complètes – Antoine Adam – Bibliothèque de la Plêiade – 1972

3) Oeuvres de Rimbaud – Suzanne Bernard – Éditions Garnier – 1960

4) Oeuvres de Rimbaud – S. Bernard e A. Guyaux – Classiques Garnier – 1991

5) Arthur Rimbaud – Oeuvres Completes – Pierre Brunel  – Le Livre de Poche – 1999

6) Arthur Rimbaud – Oeuvres Completes / Correspondence – Louis Forestier – Robert Lafont – 2004

7) Arthur Rimbaud – Oeuvre-Vie – Alain Borer – arléa – 1991

8) Rimbaud – Opere complete – Mario Richter – Einaudi-Gallimard -1992

9) Arthur Rimbaud – Opere – Diana Grange Fiori – Arnaldo Mondadori – 1975

10) Arthur Rimbaud – Opere – Ivos Margoni – Feltrinelli – 1988

11) Rimbaud – Opere in verso e in prosa – Dario Bellezza – Garzanti – 1989

12) Rimbaud – Tutte le poesie – G. Nicoletti / Laura Mazza – Tasccabili Newton – 1989

13) Arthur Rimbaud – Le Illuminazioni e Uma Stagione all´Inferno – Anna Luisa Zazo – Biblioteca Universale Rizzoli – 1961

14) Arthur Rimbaud – Illuminazioni – Ivos Margoni / Cesare Colletta – Rizzoli – 1988

15) Rimbaud – la vita la poesia i testi esemplari – Ruggero Jacobbi – Edizioni Accademia – 1974

16) Rimbaud – Complete Works, Selected Letters – Wallace Fowlie – University of Checago Press – 1966

17) Arthur Rimbaud – Complete Works – Paul  Schmidt – Harper Colophon Books – 1976

19) Arthur Rimbaud – Collected Poems – Oliver Bernard – Penguin Books – 1987

20) Rimbaud – A Season in Hell / The Illuminations – Enid Rhodes Peschel – Oxford Paperbacks – 1974

21) A Season in Hell & Illuminations – Poems by Arthur Rimbaud – Bertrand Mathieu – BOA Editions – 1991

22) A Season in Hell and The Drunken Boat – by Arthur Rimbaud – Louise Varèse – New Directions Paperbook – 1961

23) Rimbaud – Illuminations and other prose poems – Louise Varèse – New Directions Paperbook – 1957

24 ) Baudelaire / Rimbaud / Verlaine – Selected Verse and Prose Poems – Joseph M. Bernstein (Norman Cameron) – The Citadel Press – s/d

25) Arthur Rimbaud – Poesía completa – Alberto Manzano – Edicomunicación.S.A. – 1994

26)Arturo Rimbaud – Obra Poética –E. M. S. Danero – Librería Perlado – 1959

27) A. Rimbaud – Iluminaciones – Cintio Vitier – Visor Madrid – 1980

28) J. Arthur Rimbaud – Una Temporada en el Infierno – Gabriel Celaya – Visor Madrid – 1985

29) Arthur Rimbaud – Una temporada en el infierno – Oliverio Girondo y Enrique Molina – General Fabril Editora – 1959

30) J. A. Rimbaud – Una temporada en el infierno – J. Farrel – Editorial Sêneca – s/d

31) Arthur Rimbaud – Lyrik och prosa –  Gunnar Ekelöf – Fórum Pocket – 1972

32) Arthur Rimbaud – une saison en enfer – collection ouroboros – s/d

33) Poesies Rimbaud – Patrick Olivier – Hatier – 1977

34) Arthur Rimbaud – Poesies – Aux Quais de Paris – 1966

35) Rimbaud – oeuvres poétiques – Michel Décaudin – Garnier-Flammarion – 1964

36) Rimbaud – Jean-Baptiste Baronian – L&PM pocket – 2011

OBRAS RARAS E VALIOSAS 

37) Colonel Godchot – Arthur Rimbaud ne varietur 1854-1871 – Chez l´auteur – 1936

38) A. Rolland de Renéville – Rimbaud le voyant – Denoël et Steele – 1929

39) Rolland de Renéville – Rimbaud le voyant – La Colombe – 1947

40) Jean Teulé – Rainbow pour Rimbaud – Julliard – 1991

41) Delahaye témoin de Rimbaud – F.Eigeldinger/André Gendre – A la Baconnière – 1974

Biografias

42) Arthur Rimbaud – Enid Starkie – A New Directions Paperbook – 1968

43) Enid Starkie – Rimbaud – tr. Francesa de Alain Borer – Flammarion – 1982

44) Pierre Petitfils – Rimbaud – Biographie – Julliard – 1982

45) Jean-Luc Steinmetz – Arthur Rimbaud – une question de presence – Tallandier – 1991

46) Jean-Jacques Lefrère – Arthur Rimbaud – Fayard – 2001

47) Jean-Jacques Lefrère – Arthur Rimbaud – Correspondance – Fayard -2007

48) Graham Robb- Rimbaud, a biography – W. W.Norton & CO. – 2000

49) Charles Nicholl – Rimbaud na África – Nova FRonteira – 2007

50) Claude Edmonde Magny – Arthur Rimbaud – poetes d´aujourd´hui –  Pierre Seghers – 1952

51) Yves Bonnefoy – Rimbaud par lui-même – éditions du seuil- 1970

52) Jacques Rivière – Rimbaud – Dossier 1905-1925 – Gallimard – 1977

53) Benjamin Fondane – Rimbaud le voyou –Éditions Complèxe – 1990

54) Madeleine Perrier – Rimbaud: Chemin de la creation – Gallimard – 1973

55) Alain Jouffroy – Arthur Rimbaud et la liberté libre – Éditions do Rocher – 1991

56) StanilasFumet – Rimbaud mystique contrarié – Plon – 1966

57) Michel Butor – Improvisations sur Rimbaud – Éditoons de la Différence – 1889

58) P.Petitfils – L´Oeuvre et le visage d´Arthur Rimbaud – Nizet – 1949

59) Etiemble – Le mythe de Rimbaud – Genèse du mythe – 1869-1949 – Gallimard – 1968

60) Etiemble – Le mythe de Rimbaud – Structure du myrhe – Gallimard -1961

61) Etiemble – Le mythe de Rimbaud – L´année du centenaire – Gallimard – 1967

62) Etiemble – Rimbaud, système solaire ou trou noir? – Puf écrivains – 1984

63) Etiemble et Yassu Gsauclère – Rimbaud – Gallimard – 1950

64) Etiemble – Le sonnet des voyelles – Gallimard – 1968

65) Charles Henry L. Bodenham – Rimbaud et son père – Les Belles Lettres – 1992

66) Victor Segalen – Le Double Rimbaud – A Fontfroide – 1986

67) Steve Murphy – Rimbaud et la menagerie impériale – Editions du CNRS – 1991

68) Steve Murphy – Le Premier Rimbaud ou l´apprentissage de la subversion – Editions du CNRS – 1990

69) Antoine Fongaro – Rimbaud: texxte, sens et interpretations – Presses Universitaires du Mirail – 1994

70) Pierre Brunel – Arthur Rimbaud ou l´éclatant desastre – Champ Vallon – 1978

71) André Guyaux – Duplicités de Rimbaud – Champions-Slatkine – 1991

72) Revue d´histoire littéraire de la FRance – Rimbaud et son temps – Sarmand Colin – 1992

73) L´ABCdaire de Rimbaud – Pierre Chavot – Flammarion – 2001

74) Henning Boëtius – El corazón robado – Seix Barral – 1996

75) Charles Mauras – Barbarie et poésie – Arthur Rimbaud – Nouvelle Librairie Nationale – 1925

76) Rimbaud por ele mesmo – Martin Claret – s/d

77) Rimbaud – Um Estação no Inferno – tr. Xavier Placer – M.E.S – 1952 – quatro exemplares

78) Arthur Rimbaud – Uma Estadia no Inferno – tr. Ivo Barroso – Civilização – 1977 – quatro exemplares

79) Idem- 2ª. edição – 1983 – 2 exemplares

80) Uma época no inferno – tr. Mário Cesariny de Vasconcelos – Portugália Editora – 1960

81) Iluminações / Uma cerveja no inferno – tr. Mário Cesariny – Assírio & Alvim – 1989

82) Iluminações  Uma temporada no inferno – tr. Lêdo Ivo – Civilização – 1957

83) Uma estadia no Inferno – Poemas escolhidos – A Carta do Vidente – tr. Daniel Fresnot – Martin Claret – 2005

84) Uma temporada no inferno & Iluminações – tr. Ledo Ivo – Francisco Alves – 1982

85) Uma temporada no inferno – tr. Paulo Hecker Filho – L&PM – 1997

86) O Rapaz Raro – iluminações e poemas – tr. Maria Gabriela Llansol – Relógio d´Água – 1998

87) 35 poemas de Rimbaud – tr. Gaëtan Martins de Oliveira – Relógio d´Água – 1991

88) Rimbaud da América e outras iluminações – Maurício Salles Vasconcelos – Estação Liberdade – 2000

89) Rimbaud – Illuminations – GF Flammarion – 1989

90) Rimbaud – Dominique Rincé – Nathan – 1992

91) Autour de Rimbaud – C. A. Hackett – Librairie C. Klincksieck – 1967

92) Madame Rimbaud – Suzanne Briet – Lettres modernes – 1968

93) Vitalie Rimbaud – Claude Jeancolas – Flammarion – 2004

94) Madame Rimbaud – Françoise Laland – Presses de la Ranaissance – 1987

95) A Correspondência de Arthur Rimbaud – tr. Alexandre Ribondi – L&PM – 1983

96) Rimbaud en son temps – Marcelin Pleynet – Gallimard – 2005

97) Rimbaud – Verlaine – Graças e desgraças – António Moura – Hiena Editora – 1993

98) La vie aventureuse de Jean-Arthur Rimbaud – Jean-Marie Carré – Plon – 1926 OBRA RARA   

99) Correspondance – 1888-1891 – ed. Jean Voellmy – Gallimard – 2004

100) Rimbaud – l´heure de la fuite – Alain Borer – Gallimard – 1991

101) Les Femmes de Rimbaud – Jean-Luc Stinmetz – Zulma – 2000

102) I promise to be good – tr. Wyatt Mason – Modern Librry – 2004

103) Lettres de la vie littérarire – ed. Jean-Marie Carré – Gallimard – 1931

104) Rimbaud au fil des ans – Pierre Petifils – Musée Rimbaud – 1984

105) The Poetry of Rimbaud – Robert Greer Cohn – USCarolina Press – 1999

106) Jean-Arthur Rimbaud – Le poète – Paterne Berrichon – d. Brunel – Klincksieck – 2004

107) Carnet Rimbaud – Mille et une nuits – 1998

108) Rimbaud – M.-A. Ruff – Hatier – 1968

109) Paul Verlaine – Confissões – e Arthur Rimbaud – tr. Cabral do Nascimento – Relógio d´Água – 1994

110) Rimbaud da Arábia – Alain Borer – tr. Antônio Carlos Viana – L&PM – 1991

111) Rimbaud tel que je l´ai connu – Georges Izambard – Le Passeur – 1947 – OBRA RARA

112) Rimbaud na Abissínia – Alain Borer – tr. Antônio Carlos Viana – L&PM – 1987

113) Bonheur – Paul Verlaine – Mercure de France – 1949 – OBRA RARA

114) Rimbaud no Brasil – org. Carlos Lima – UERJ – 1993 (dois exemplares)

115) Rimbaud Livre – Augusto de Campos – Perspectiva – 1993

116) O tempo dos assassinos – Henry Miller – tr. George Cardoso Ayres – Record – 1968

117) Le Bateau Ivre – Augusto Meyer – Livraria São José – 1955

118) Arthur Rimbaud — Ernest Pignon-Ernest – Editions J.C. Lattès – 1991

119) Rimbaud – Calender – Agenda – Edition Aragon – 1991

120) O barco ébrio – Jayro Schmidt – Bernúncia – 2006

121) Rimbaud le fils – Pierre Michon – Folio – Gallimard – 1991

122) Rimbaud, o filho – Pierre Michon – tr.Juremir Machado da Silva – Ed. Sulina – 2000

123) Arthur Rimbaud para Alain Borer – narrativa em 2 cassetes

124) Os três volumes das obras completas tr. de Ivo Barroso – Topbooks – 1994/2009

125) Uma caixa com revistas francesas sobre Rimbaud

126) Uma caixa contendo os originais da tradução de Une Saison em Enfer.

127) Une Saison em Enfer – Edition critique – Pierre Brunel – José Corti – 1987

128) Un Coeur sous une soutane – ed. Steve Murphy – Bibliothèque sauvage – 1991

129) La Prose de Rimbaud – Gilles Marcotte – Boréal – 1989

130) Essais de sémiotique poétique – A. J. Greimas – Larousse – 1972

131) Le Code dantesque dans l´ouevre de R. – Margherita Frankel – Nizet – 1975

132) Rimbaud Projets et Réalisations – Pierre Brunel – Champion – 1983

133) EUROPE – revue littéraire mensuelle – Rimbaud  – 1991

134) Revue des letters modernes – Rimbaud-1 – images et témoins – 1971

135) idem – Une saison en enfer – poétique et thématique – 2 – 1973

136) idem – problèmes de langue – 3 – 1976

137) idem – autour de Villes et Génie – 4 – 1980

138) Conférence – revista – Rimbaud Enluminures´- M. Martineau – 1995

139) Conférence – número dois – printemps 1996

140) SUD – revista – Arthur Rimbaud – Bruits neufs – 1991

141 – revista avan-siècle – 1 – études rimbaldiennes – 1968

142) idem – 2 – les manuscrits de Rimbaud – 1970

143) idem – 3 – études rimbaldiennes – 1972

144) Parade sauvage – études rimbaldiennes – nº 13 – 1996

145) idem – nº14 – mai 1997

146) Circeto – études rimbaldiennes – oct. 1983

147) idem – fev. 1984

148) EUROPE – revista – Rimbaud – 1973

149) La Bataille Rimbaud – Bruce Morrissette – Nizet – 1959

150) L´Herne – documentário Rimbaud – André Guyaux – 1993

151) Le banquet de Rimbaud – Anne-Em. Berger – Champ Vallon – 1992

152) Rimbaud au Japon – Jacques Perrin – Presses univ. de Lille – 1992

153) Le Dictionnaire Rimbaud – Claude Jeancolas – Balland – 1991

154) Dix études sur Une Saison en Enfer – À la Baconnière – 1994

155) Les Deux visages de Rimbaud – Mario Matucci – idem – 1986

156) L´Adolescent Rimbaud – Robert Montal – Le Écrivains réunis – 1954 obra rara

157) Rimbaud and Jim Morrison – Wallace Fowlie – Duke University Press – 1993

158) Rimbaud e Jim Morrison – Wallace Fowlie – Editora Elsevier – 2005

159) Illuminations – edição crítica – André Guyaux – Braconnière – 1985

160) Poétique du fragment – André Guyaux – Baconnière – 1985

161) Le vertige de Rimbaud – Paule Lapeure – Baconnière – 1981

162) Um sieur Rimbaud se disant n[egociant – Alain Borer – Lachenal & Ritter – 1983/84

163) Rimbaud à Aden – Jean-Jacques Lefrère – Fayard – 2001

164) Rimbaud Ailleurs – fotos de Jean-Hugues Berrou – Fayard – 2002

165) Arthur Rimbaud – Oeuvres – René Char – Club français du livre – 1957 OBRA RARA 

166 ) ALBUM ZUTIQUE  – edi;’ao facsimilada – Pascal Pia – Jean-Jacques Pauvert  – 1962 EDIÇÃO RARÍSSIMA DE APENAS 1.500 EXEMPLARES PARA O CERCLE DU LIVRE PRÉCIEUX

167) A E I U O – Rimbaud – vários autores – Hachette – 1968 (iconografia)

168) Rimbaud – l´oeuvre intégrale manuscrite – Claude Jeancolas – Textuel – 1996 (3 volumes)

TOTAL 170 ITENS

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Wallace Fowlie, professor emérito de literatura francesa da Duke University (Carolina do Norte, EUA), passou a vida ministrando cursos sobre Proust, Rimbaud, Mallarmé, Gide, Claudel e Dante, mas sua maior atenção e estudos fo­ram dedicados ao “insigne pas­sante” de Charleville, de quem acabou tradutor da obra com­pleta. Não foi o primeiro em in­glês, nem sequer o melhor: Oliver Bernard, Paul Schmidt, Louise Varèse, Bertrand Mathieu e Wyatt Mason também por ela se aventuraram, mas só Norman Cameron e Enid Rho­des Peschel conseguiram dar, por fim, ao leitor norte-ameri­cano, respectivamente, uma equivalência poética e una interpretação textual condignas da obra rimbaldiana.

Fowlie, contudo, foi quem le­vou mais longe o culto à obra e à vida do poeta, pois além de traduzi-lo, passou, depois de aposentado, a dar conferências nas universidades e colégios do país, divulgando a obra traduzi­da. Pode despertar admiração ou curiosidade o interesse que os jovens estudantes america­nos demonstravam à época por essas conferências sobre um es­critor francês que lhes era (e ainda é) desconhecido; mas a verdade é que Fowlie tinha um “gancho” explícito e infalível: em 1968 recebera o bilhete em que um cantor sem nome (para ele) lhe agradecia “por ter feito a tradução de Rimbaud, pois, não lendo bem o francês, só as­sim pôde apreciar devidamente o poeta”. Esse cantor era o já fa­moso roqueiro Jim Morrison que, em breve, passaria a ser visto, por suas atitudes performáticas, como guru xamanístico, fauno psicodélico e rebelde com (ou sem) causa, consagran­do-se ídolo da geração beat. Fowlie, dando-se conta, em seguida, do passaporte para a juventude e a popularidade que tinha em mãos, passou a anunciar suas conferências como sendo um paralelo entre os “dois poe­tas malditos”, com o que, se por um lado conseguia seu obje­tivo de divulgar a obra de Rimbaud, por outro procedia politi­camente correto agradando ao público jovem, por equiparar o roqueiro americano ao maior poeta francês da modernidade. As conferências – uma delas in­titulada Traduzindo Rimbaud para um Cantor de Rock fize­ram sucesso, pois Fowlie conseguia transmitir algum Rimbaud em troca de muitos esclareci­mentos sobre “a obra” de Morrison, num perfeito entrosamento com a audiência, que via ne­le um “um erudito avançado”.

O livro “Rimbaud e Jim Morrison” (Elzevir, 2005) é uma síntese de tais conferências, apresentadas com levíssimas modificações em dezenas de campi universi­tários. Louve-se desde já o em­penho com que o velho mestre se dedicou ao estudo do “cantor desconhecido”, guardando de cor os locais e datas das per­formances, títulos das músicas, gravadoras, etc., etc., valendo-­se para tanto das biografias de John Densmore, de Jerry Hopkins/Daniel Sugerman e de Ja­mes Riordan/ Jerry Prochnick. Compreende três partes, as duas últimas dedicadas respecti­vamente a Rimbaud e a Jim Morrison, e a primeira ao “feliz descobridor da dupla”, o pró­prio professor Wallace Fowlie. Nesta. com uma profusão de de­talhes que faz pressupor revela­ções inéditas sobre os persona­gens principais (o que aliás não acontece), Fowlie conta como traduziu a obra de Rimbaud, es­clarecendo com Louise Varèse (esposa do compositor Edgar Varèse) dúvidas mútuas e co­mo foi “despachado” por Etiemble, que ìhe disse: “Estou relendo Rimbaud e cheguei à conclusão de que não entendo sequer uma frase escrita por ele.” Conta também como pre­parava as conferências, exami­nando de antemão a tribuna, o microfone, a colocação da assis­tência, etc. e registra a hora em que chega com precisão de se­gundos e até quantos copos de água bebeu durante a palestra.

A análise que faz da vida e da obra de Rimbaud é um tanto “digest”, e a interpretação de algumas “plates” das Ilumina­ções possivelmente discutível diante da montanhosa exegese que hoje circunda cada frase e até cada palavra do poeta. Mas para o leitor iniciante e desejo­so de conhecer os motivos que fazem de Rimbaud o quebra-di­ques da poesia moderna, o li­vro é mais que útil porquanto escrito por alguém que convi­veu com essa obra e admirou-a durante toda a vida e procura aqui incentivar sua Ieitura.

O grande problema do livro é o possível equívoco que o subtítulo “os poetas rebeldes” pode ocasionar. Jimi Morrison é poeta? E aqui entra em cena a ferrada discussão se letra de música (lyrics) é poesia. Morrison, à semelhança de Rimbaud, em dado momento de sua vida quis mudá-la, depois de ter seguido a fórmula do poeta com “o desregramento de todos os sentidos”, frase aliás que tem sido mal inter­pretada, pois na verdade o que Rimbaud parece querer dizer com isso tem mais a ver com a hipersensibilidade do que com o mero deboche. O popstar, desgastado com o processo que sofreu por ofensa ao pudor público, muda-se para Paris onde pretende dedicar-se à poesia e ao cinema. Mas a morte, em circunstâncias bas­tante controversas, o leva precocemente, como fez com Rimbaud – embora lhe dando a glória póstuma de jazer no Père Lachaise.

A obra “literária” de Jim Morrison está hoje contida em dois volumes bilíngues, edita­dos na França: Lords and New Creatures (Seigneurs et Nou­velles Créatures) e Une Prière Américaine et Autres Ecrits.

Nela não há a esperada influência de Rimbaud, a não ser em duas ou três frases muito diluí­das; predomina o “verso her­mético” e a “referência pes­soal gratuita” (private notes), conhecidos inibidores da ver­dadeira expressão poética. No conjunto, o escritor não chega a ser urna promessa, proceden­do acertadamente seus admira­dores americanos em conside­rá-lo apenas o grande perfor­mer e compositor vocalista do The Doors. Mas Fowlie capri­cha na análise de suas letras e se esforça para valorizar suas “realizações poéticas’.­

Louve-se neste livro de divul­gação sua inquestionável boa qualidade e a fluente tradução de Alexandre Feitosa Rosas, que um ou outro cochilo da re­visão não chega a arrepiar.

(Fonte: Cultura – O Estado de S. Paulo – 23.01.2005 – Na onda de dois poetas malditos)

                              RIMBAUD NO PEN CLUB

                        (mesa-redonda – outubro 2004)

Quis o Pen Club do Brasil – na pessoa de seu Presidente Geraldo Holanda Cavalcanti e de sua Vice-Presidente Bella Jozef – que o sesquicentenário de nascimento de um dos mais importantes poetas franceses – Arthur Rimbaud – não passasse inteiramente esquecido do público brasileiro e resolveu promover este encontro com três tradutores do poeta – Xavier Placer, Ledo Ivo e Ivo Barroso – que aqui viriam falar de sua experiência com essa monumental obra poética e, na medida do possível,  manter com o público presente uma conversa informal sobre a vida e a obra de Rimbaud.  Xavier Placer, [que infelizmente não pôde, à última hora, comparecer por motivos de saúde] foi quem primeiro deu forma de livro no Brasil à obra de Rimbaud com Uma Estação no Inferno, de 1952, nos Cadernos de Cultura do MEC editados por Simeão Leal; o grande poeta e acadêmico Ledo Ivo, foi o primeiro a traduzir entre nós As Iluminações em 1957, juntamente com a Saison a que deu o excelente título de Uma Temporada no Inferno; e este que vos fala, que espera concluir brevemente a tradução do terceiro volume da obra  de Rimbaud,  de que a Topbooks relança nesta ocasião a terceira edição da Poesia Completa.

Em 1994, para homenagear o centésimo quadragésimo aniversário de nascimento de Rimbaud, o Centro Cultural Banco do Brasil organizou toda uma Semana Rimbaud (que na verdade se estendeu de 22 de novembro a 10 de dezembro), durante a qual foram realizadas palestras, exposições, mostras fotográficas que reproduziam fotos e manuscritos, exibição de filme, declamação de poemas e lançamento de livro. Agora, em 2004, por ocasião do sesquicentenário de Rimbaud, acreditávamos que manifestações culturais semelhantes pudessem ser ainda mais expressivas, programadas pelos centros de divulgação, com apoio de outras entidades nacionais e estrangeiras, à semelhança do que está ocorrendo na França, na Itália e no Japão, para citar apenas esses três países. Contudo, em decorrência de problemas da programação desses órgãos (que é feita com uma antecedência às vezes de até um ano), não foi possível a inclusão em 2004 de nenhum evento ligado ao sesquicentenário de Rimbaud, e a data passaria esquecida do público brasileiro não fosse a inserção, em alguns jornais e revistas, de pequenas notas ou artigos referentes ao poeta. A revista Continente, de Recife, a que mais extensamente tratou do assunto,  estampou em sua capa o retrato do poeta  e publicou matéria bastante variada, inclusive um roteiro de Charleville e uma longa carta em que Rimbaud descreve sua travessia dos Alpes, a pé; o suplemento Mais!, da Folha de São Paulo, também publicou uma carta, uma das últimas, em que o poeta informa à família sua hospitalização em Marselha às vésperas de ter a perna direita amputada; o suplemento Magazine, do jornal O Tempo, de Belo Horizonte, também deu capa à matéria tratada sob a forma de entrevista. Afora isto, o silêncio em torno do sesquicentenário de Rimbaud — tão celebrado com alarde nos países cultos – foi aqui total e unânime. Nenhuma entidade cultural, brasileira ou estrangeira, promoveu qualquer evento em comemoração à data, e é com grande satisfação que vemos o Pen Club assumir a incumbência de romper este pesado e inexplicável silêncio .  Se quiséssemos tirar conclusões apressadas, poderíamos imaginar que a importância de Rimbaud decaiu muito nestes dez anos. Mas a verdade é que ele é cada vez mais estudado e lido no mundo culto e nesse interregno surgiram pelo menos duas novas e importantes biografias: a de Graham Robb, em 2000,  e a de Jean-Jacques Lefrère, considerada agora a mais completa, em 2001. Inúmeros artigos e livros foram publicados no período e, agora em 2004, além de duas novas edições das obras, saíram dois novos estudos sobre Isabelle e Vitalie, respectivamente a irmã dedicada e a mãe autoritária do poeta. A Sorbonne organizou um amplo debate sobre Rimbaud que reuniu os nomes mais expressivos da poesia francesa. O que Etiemble, já lá se vão muitos anos, designou de “O Mito de Rimbaud”, quando em 1968, catalogava cerca de 15.000 obras (livros, artigos, comentários) sobre o poeta e sua obra, já deve ter pelo menos triplicado neste período. E a influência de Rimbaud, que era palpável de Proust a Borges, passando por Serge Gainsbourg e Cartier-Bresson, continua a inspirar e contaminar a obra dos poetas novos em todo o mundo. A Itália tem três edições diferentes da obra completa. O Japão, outras tantas. No Brasil suas traduções estavam desde muito esgotadas, mas a presença de Rimbaud se manifesta em cada novo livro de poesia, aqui e algures, pois ele criou uma linguagem nova que se identifica como sendo o idioma da poesia moderna.

Os participantes desta mesa falarão sobre sua experiência em traduzir a obra de Rimbaud e responderão a eventuais perguntas da audiência. É a nossa modesta contribuição ao sesquicentenário do Poeta. Modesta, mas ainda mais significativa por ter sido a única.

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