ENTREVISTA AO SUPLEMENTO
Você é nascido em Ervália no ano de 1929. Que lembranças têm deste período? Quais leituras? É verdade que gostava de Machado de Assis e de Humberto de Campos? Deste último é verdade que você fez muitos sonetos imitando seu estilo?
Tenho grandes recordações de minha infância numa cidadezinha interiorana com meu pai farmacêutico e um tio fazendeiro: peraltices, tomar banhos de rio, empinar papagaio, correr atrás das tanajuras… A Filarmônica São Luiz Gonzaga… A escola de Dª Nenzinha… Ah! tantas lembranças que levei comigo até mesmo pelos vários paises da Europa por onde andei. Escrevi um longo poema (Rapsódia Hervalense) de louvor à minha terra e ainda hoje mando livros para a biblioteca de lá. Sempre houve leituras, sim, muitas: fui um dos primeiros assinantes de O Globo Juvenil e do Gibi. Não havia livrarias nem bancas de jornal no Herval de então, meu pai comprava coleções de livros de vendedores itinerantes: O Tesouro da Juventude e todos os clássicos Jackson, encadernados. Machado de Assis e Humberto de Campos foram os dois primeiros “poetas” que li em livro, quando já começava a fazer versos. Gostava do “macete” de H. de Campos: ele começava com uma lenda da mitologia ou da história antiga e, lá no fim do soneto, entrava com um “também eu… etc”. Fiz muitos sonetos com esse tipo de fecho em que me comparava com o personagem principal, mas geralmente me reservando condições de total inferioridade.
Augusto dos Anjos também foi um autor importante deste período?
Augusto dos Anjos foi a grande revelação poética, já no Rio, nos anos 45. Era o único livro de versos na biblioteca de um vizinho que soube de meu gosto pela leitura. Ele ficou surpreso de me ver lendo o Eu, sempre relegado ao fundo de sua estante, e me deu o livro de presente. Li-o inúmeras vezes, sublinhando as palavras que eu não conhecia, que eram praticamente todas. Eu sabia dezenas de sonetos dele de cor e até hoje me lembro de alguns. Inútil dizer que o considero um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos.
Você foi aluno da antiga Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de Janeiro, onde fez o curso de línguas e literaturas neolatinas. Este período foi importante para a sua formação? A universidade teve alguma importância na sua formação?
Foi um período de verdadeira formação literária. Tínhamos professores excelentes, além de Manuel Bandeira (que acabara de aposentar-se): José Carlos Lisboa, que nos ensinou a amar em sua totalidade a literatura espanhola; Luce Ciancio, que nos envolvia na cantante língua italiana; gênios precoces como Élcio Martins, que nos faziam ansiar pela cultura… Foi lá que desenvolvi meu gosto pela tradução de poesia: os trabalhos de casa, de interpretação de versos e questões gramaticais, eram tomados por mim como verdadeiros desafios e quase sempre apresentava meus deveres sob a forma de traduções rimadas e metrificadas.
Você desde muito cedo se dedicou à tradução de poesia. Já na década de 60, integrou o movimento Concretista que tinha no Suplemento Literário do Jornal do Brasil, seu veículo de expressão, no qual publicou várias de suas traduções e poemas originais. Que lembranças tem da época do Suplemento do JB?
Há aqui uma pequena inversão: eu integrava a redação do Suplemento Literário do Jornal do Brasil, quando este, no Rio, deu acolhida ao movimento concretista vindo de São Paulo. No Suplemento eu já havia publicado muitos poemas originais e traduções, além de artigos de crítica literária. Com a adesão do Suplemento ao concretismo, muitos dos colaboradores passaram a fazer poemas concretos, ou supostamente concretos, pois não sabíamos bem do que se tratava. Eu mesmo cheguei a publicar vários, e, mesmo depois de considerar o movimento ultrapassado, recolhi alguns que considerei “válidos” em meu livro “A Caça Virtual e outros poemas”, sob a rubrica “poemas da fase concretista”. Mas o concretismo serviu para nos conscientizar da necessidade de conhecermos línguas e usar a tradução como aprendizado poético. O Suplemento representou para mim uma entrada na maturidade: o convívio com pessoas altamente integradas no fazer literário, como Mário Faustino, Ferreira Gullar e Reynaldo Jardim não só nos servia de rumo como também de estímulo em nossas próprias criações. Foi um aprendizado permanente e de alto nível.
Recentemente li o seu texto sobre sua participação na revista Senhor. Lá fez importantes traduções. Seria legal o senhor falar um pouco deste período.
Eu já trabalhava na Editora Delta quando ali foi criada a revista Senhor. Nela colaborei desde o primeiro número com a tradução da novela As Neves do Kilimandjaro, de Ernest Hemingway. Paulo Francis, Luís Lobo, Ivan Lessa eram as grandes figuras da redação, dirigidos por Nahum Sirotsky. Todos com grande experiência jornalística, inclusive adquirida no exterior, queriam criar (e criaram) uma publicação avançadíssima em termos gráficos e de conteúdo. Era uma revista que conjugava os assuntos mais sérios com boas doses de gozação e humorismo. Francis foi meu grande incentivador no campo da tradução; gostava do meu trabalho e sempre me entregava os textos mais difíceis para traduzir. Foram várias novelas e contos, mas houve também poemas (traduzidos e originais) além de um artigo Para inglês ver, de crítica literária. O convívio com aqueles jovens avançados (que eu chamava de estrangeiros) serviu muito para quebrar um pouco a minha crônica timidez.
O senhor trabalhou com Paulo Rónai na Coleção dos Prêmios Nobel de Literatura. Poderia falar um pouco desta amizade?
Paulo Rónai era de uma seriedade extrema, sempre determinado a obter a perfeição em seus trabalhos. Sua edição dos 98 volumes da Comédia Humana, de Honoré de Balzac, para os quais escreveu prefácios, selecionou e encomendou traduções e revisou tudo linha por linha, é um dos maiores monumentos da editoração no Brasil. Conheci-o por ocasião em que dirigia a Coleção dos Prêmios Nobel de Literatura, constante de volumes dedicados aos ganhadores da láurea, desde sua primeira atribuição, em 1919, ao poeta francês Sully Prudhomme. Para a edição dessas obras em português (limitadas em princípio a 40), Rónai havia escolhido os melhores escritores brasileiros de então ou selecionado as melhores traduções já existentes. Recomendado por meu trabalho no Suplemento e na revista Senhor, ele me convidou, de início, para traduzir o Colas Breugnon, de Romain Rolland, logo me prevenindo que se tratava de um livro escrito numa prosa imitativa das narrativas do século XVIII, quase sempre rimada e cheia de expressões coloquiais. O resultado – por ele julgado satisfatório – estimulou-o a confiar-me outro livro, as Poesias, do escritor nacional sueco, Erik Axel Karfeldt. Como lhe expusesse meu total desconhecimento do sueco, Rónai disse que confiava em meus dotes poéticos para um bom resultado: deu-me a edição francesa em prosa e o original sueco, este para eu sentir a estrutura da língua e observar a disposição dos versos. Ele novamente aprovou o resultado. E a ironia foi que, anos depois, morei durante 5 anos na Suécia, aprendi algo da língua (pelo menos para ler) e pude verificar que a “tradução” não fora tão má quanto a princípio imaginei.
O senhor também trabalhou com de Antonio Houaiss na Grande Enciclopédia Delta-Larousse. Poderia falar um pouco desta amizade?
Acabo de publicar em meu blog Gaveta do Ivo minhas lembranças de Antônio Houaiss, numa sequência de quatro postagens. Nelas evoco o longo convívio que tivemos no âmbito da Enciclopédia Delta Larousse, convívio este que logo se transformou em estreita amizade, em total devoção de minha parte. Houaiss era um trabalhador braçal da literatura, como ele próprio disse, dínamo incansável para quem não havia tarefa impossível. Aprendi com ele que a dedicação e o amor a um trabalho são capazes de vencer até as dificuldades aparentemente intransponíveis. Aliás, tudo aprendi com ele, inclusive a gostar de restaurantes estrelados. Dois de meus livros (Sonetos de Shakespeare e O Torso e o Gato) nasceram por estímulo seu e apresentação sua. Tive a satisfação de dedicar-lhe a Poesia Completa de Rimbaud e tracei seu perfil de tradutor no volume gratulatório que lhe oferecemos por ocasião de seu 80º aniversário. Antônio Houaiss foi uma figura miliária no meu percurso de escritor.
A sua tradução dos sonetos de Shakespeare me parece que começaram a ser feita na época que o senhor morava na Holanda, no final dos anos 60. É isto? Poderia contar um pouco?
A primeira tentativa registrada por mim de traduzir um soneto de Shakespeare data de 1947, quando eu tinha 18 anos. Era o XXIX (Quando longe da vista humana e da fortuna), que traduzi em alexandrinos. No final dos anos ´50 devia ter uns 4 ou 5 prontos, então em decassílabos, com os quais obtive uma espécie de passe livre nas páginas do Suplemento, sob a égide de Mário Faustino; entre eles já estava o LXXI (Não lamentes por mim quando eu morrer), que me granjeou a simpatia de Manuel Bandeira. A fase de trabalhos sistemáticos, no sentido de traduzir um considerável número deles, ocorreu de fato na Holanda, onde residi entre 1968/70. Lá encontrei uma edição integral bilíngue (inglês-neerlandês) e fiquei conhecendo o tradutor, que me pôs à mostra as dificuldades do texto, mas também me deu ânimo para prosseguir. De volta ao Brasil, tive a primeira edição publicada em 1973, com apenas 24 sonetos traduzidos. Em 1991, já eram 30 e em 2005, por brincadeira numerológica, publiquei uma edição com 42, número que era o inverso dos 24 da edição inicial. Como havia fixado para mim mesmo a meta dos 50, foi com uma espécie de alívio que encerrei minhas lutas de anjo com o Vate neste ano de 2012, com uma edição especial da Nova Fronteira.
Seria legal também o senhor conta um pouca do seu monumental trabalho de tradução do grande Arthur Rimbaud. Poderia falar disto?
A história com Rimbaud é mais longa. Um dia, no Suplemento, levei ao Reynaldo Jardim uma tradução do Soneto das Vogais, de Rimbaud, que eu encontrara numa antologia. Reynaldo me fez ver que o soneto já havia sido bastante traduzido em português, mas achando boa a tradução insistiu para que eu fizesse outras do mesmo poeta, principalmente os poemas em versos da Saison, que eu não conhecia. Ao enfrentá-la tive uma espécie de choque traumático e me meti na cabeça que os havia de traduzir. Coincidentemente, o editor Enio Silveira (que já publicara uma tradução anterior da Saison e das Illuminations), estava à procura de alguém que lhe fizesse uma nova, com os poemas em versos devidamente traduzidos em métrica e rima. Acabei lhe entregando a tradução na véspera de minha partida para a Europa (dezembro de 1972), inclusive com a corajosa apresentação que o Dr. Alceu Amoroso Lima escrevera para ela, ante minha total surpresa e absoluto encanto. O livro que devia sair em 1973, no centenário de publicação da obra, acabou aparecendo em 1977, pelo motivo que eu vim a saber só muitos anos depois: a tradução fora obstada pela Censura oficial da ditadura porque no prefácio do Dr. Alceu ele se referia a Ênio Silveira como “o mais perseguido e o mais perseverante de nossos editores”. Durante minha permanência na Europa (1973-1993), sendo os 4 últimos na França, decidi traduzir a obra completa, inclusive a correspondência. Comprava e colecionava todos os livros, revistas e recortes que podia sobre a vida/obra do diabólico Arthur e cheguei a ter umas 3 centenas de livros correlatos. Em Paris, em contato com a Société des Amis de Rimbaud tive finalmente um insight que me permitiu o deslanche: parar de ler, abandonar tudo e tratar apenas de traduzir a obra, pois todos os dias saía alguma coisa sobre a obra de Rimbaud que alterava, contestava, acrescentava ou subtraía algo a toda a literatura específica já existente, e se eu fosse me deter em cada um desses detalhes jamais terminaria a tradução a que me propunha. Quando regressei ao Brasil em 1993, encontrei no editor José Mário Pereira, da Topbooks, um entusiasta pela obra de Rimbaud e com ele vim a editar os três volumes, Poesia Completa, Prosa Poética e, finalmente, a Correespondência, que saiu em 2009. Para fugir à tentação de voltar a rever a obra, doei todos os livros de minha rimbaldiana ao Centro Cultural do Banco do Brasil.
O senhor também já traduziu Eliot: Os Gatos (Old Possum’s Book of Practical Cats). Pergunto: o que pensa das traduções de Eliot feitas no Brasil?
Eu morava em Londres quando o musical de Lloyd Weber estreou. Curioso por saber que tipo de tratamento o texto de 0ld Possum’s Book of Pratical Cats havia sofrido na encenação, fui com José Guilherme Merquior, que era meu vizinho, ver a peça, curiosos de saber se o músico tinha respeitado integralmente os versos do poeta ou se acrescentara ou suprimira trechos na adpatação para o palco. Verificando que o texto tinha sido integralmente respeitado, recebi de José Guilherme a intimação de traduzi-lo em protuguês. Mostrando-lhe uma primeira tentativa, recebi dele a intimação (e depois a cobrança reiterada) de traduzir o livro inteiro. Durante muitos anos, andei à procura de rimas pirotécnicas, jogos de palavras, polissemias e correspondências que pudessem dar ao leitor brasileiro a equivalente impressão dos versos humorísticos de Eliot.
Diferentemente de meu habitual processo tradutório, que consistia em manter-me o mais próximo possivel da letra do original, tive então que necessariamente recorrer a um trabalho de recriação, optando por substituir o referencial inglês, quando ininteligível ou pouco familiar ao leitor médio brasileiro, por equivalências que, sem traírem o texto original, funcionassem da mesma forma no território de nossa língua. Esse esforço de reelaboração isotópica foi para mim, no entanto, um período igualmente de recreação, pois à medida que ia encontrando soluções sentia aumentar minha possibilidade lúdica, brincando e me divertindo com os versos da maneira como o próprio Eliot deve ter procedido ao criá-los. O livro saiu em 1991, ganhou prêmio Jabuti de tradução daquele ano e foi naturalmente dedicado à memória de Merquior, que então havia falecido.
A obra poética de Eliot foi inteiramente traduzida por Ivan Junqueira e o teatro completo por mim. A apreciação cabe, pois, aos leitores.
Uma de suas últimas publicações foi O Corvo e suas traduções, aliás em 3ª edição. Poderia falar um pouco a respeito desse livro?
O livro nasceu de um pequeno ensaio que publiquei, em fevereiro de 1994, na revista Poesia Sempre, da Biblioteca Nacional, de que eu era um dos redatores. Desde que li – muito tempo antes – a tradução de O Corvo, de Edgar Allan Poe, feita por Milton Amado, achei-lhe qualidades poéticas superiores às três outras mais conhecidas, ou seja, a de Machado de Assis, a de Fernando Pessoa e a de Gondin da Fonseca. Foi para manifestar essa minha opinião, baseada em evidências crítico-literárias, que recorri à revista. Tempos depois, tive uma conversa com meu amigo Carlos Heitor Cony sobre o poema e suas traduções. Ele não conhecia nem meu ensaio nem a versão de Milton, mas ficou convencido de minhas razões a propósito da primazia desta sobre às que ele conhecia. E escreveu a propósito uma crônica, publicada inicialmente na Folha de S. Paulo. Foi tal o número de cartas que chegaram à redação pedindo cópias do trabalho do Milton, que Cony me incentivou a publicar o ensaio em livro, juntamente com algumas traduções, inclusive as francesas de Baudelaire e Mallarmé. A primeira edição saiu pela Lacerda Editores em 1998, editora associada à Nova Fronteira, que detinha na época os direitos autorais da tradução de Milton. Uma segunda edição, revista e aumentada, apareceu pouco depois, em 2000, e agora, estando esgotada por longo tempo, veio à luz a 3ª, pela Editora LeYa, de São Paulo. Nela incluí a tradução francesa de Didier Lamaison, que, a meu pedido, dotou a língua de Baudelaire de uma tradução rimada e metrificada, num esforço semelhante ao de Milton Amado para o português.
Que evidências crítico-literárias o senhor tem para considerar a tradução de Milton a melhor?
Milton acertou a “embocadura” do poema, ou seja, percebeu que ao verso duplo de 7 sílabas de Poe (7+7) correspondia em nossa língua (pelo menos no português do Brasil) a um verso duplo de 8 sílabas (e não de 7), com o que acertava o andamento do poema. Lido em inglês e na tradução de Milton, nota-se a mesma cadência, a mesma fluência discursiva, o que não se dá, por exemplo, na tradução de Pessoa, que, desejando seguir à risca a métrica do original, se manteve escravizado ao verso de sete sílabas. Daí resultou em Milton, à semelhança da métrica utilizada em Poe, um verso longo com cesura (todos têm 16 sílabas métricas, fora o refrão, que acelera o ritmo para 8). Além disso, para evitar a monotonia das rimais em “ais” (ore, em inglês, aqui no esquema representadas pela letra b), em vez da notação a/a // b // c/c/ b // b / b, ele usou a/a // b //c/c/c /d// d /d //b ou seja, utilizou no 4º verso o mesmo sistema de rimas tríplices usado por Allan Poe apenas no 3º.
Mas não são essas tecnicalidades que tornam sua tradução surpreendente e sim a capacidade de fazer grandiosos versos em português, encima dos parâmetros poeanos. Se em alguns casos o sentido não é exatamente o mesmo em inglês e português, a carga emotiva do verso – em suma a sua poesia – encontra em nossa língua uma correspondência perfeita:
Ansiando ver a noite finda, em vão, a ler, buscava ainda
Algum remédio à amarga, infinda, atroz saudade de Lenora
— essa mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora
e nome aqui já não tem mais.
(…)
A seda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina
arrepiando-me e evocando ignotos medos sepulcrais (…)
Milton Amado, com sua tradução, alcançou aquele momento com que sonham todos os tradutores de poesia: o da transmigração absoluta do conteúdo e da forma de um poema para o território de sua própria língua, dando-lhe a identidade de uma vida autônoma. Mas esse verdadeiro gênio poético, que doou nossa língua de uma tradução que é sósia perfeita do original, continua desconhecido e às vezes relegado à menção subsidiária a que vivia condenado. Milton é um orgulho para Minas Gerais, terra de grandes poetas. Tímido, pobre, na sombra, nunca teve em vida o reconhecimento de seu valor. Que os mineiros saibam agora todas vezes que declamarem “Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria”, que estão citando Edgar Allan Poe mas pela voz de Milton Amado.