TRADUZIDOS POR IVO BARROSO
No Meu Ofício ou Arte Amarga
No meu ofício ou arte amarga
Que à noite tarda é exercido
Quando alucina só a lua
E dormem lassos os amantes
Com as dores todas entre os braços,
É que trabalho à luz cantante
Não pela glória ou pelo pão,
Desfile ou feira de fascínios
Por sobre palcos de marfim,
Mas pela paga mais afim
De seus secretos corações!
Não para alguém altivo à parte
Da lua irada é que eu escrevo
Os respingados destas páginas
Nem pelos mortos presumidos
Cheios de salmo e rouxinóis.
Mas para amantes cujos braços
Têm os cansaços das idades
Que não me dão louvor nem paga
Nem prezam meu ofício ou arte.
Diálogo de Rosie e do Capitão
ROSIE PROBERT (Suave)
Que mares pudeste ver,
Tom Cat, meu capitão,
Nos teus dias de marujo
Em tempos que lá se vão?
Que monstros marinhos moram
No oscilar das verdes ondas
Onde foste meu patrão?
CAPITÃO CAT
Pois em verdade te digo:
Locas latindo qual focas,
Ondas verdes, mares índigo,
Águas prenhes de lampreias,
De tritões e de baleias.
ROSIE PROBERT
Por que mares amaraste,
Velho Baleeiro, as velas
Em onda inchada de males
Entre S. Francisco e Gales
Quando ainda eras meu mestre?
CAPITÃO CAT
Tão certo quanto estou cá,
Teu Tom Cat minha amada,
Minha Rosie porto certo,
Meu conforto meu afeto,
Minha fiel namorada,
Mares verdes como vagens
Deslizando como cisnes
ao luar de focas latindo.
ROSIE PROBERT
Que mares que te embalaram
Meu grumete de convés
Meu marido preferido
Com tuas botas nos pés
E ânsias na tua fome
Meu benzinho baleeiro
Meu pãozinho meu papai
Meu formoso marinheiro
Tendo meu nome na pança
Quando eras quase criança
Num tempo que lá se vai?
CAPITÃO CAT
Não direi palavras chochas:
O único mar que eu via bem
Era o que havia no vai-e-vem
Que vai via as tuas coxas.
Quero que deites devagar
Deixes-me nele naufragar.
Canção de Mr. Waldo
Quando era moço, em Pembroke City,
de Castle Keep morava ao pé.
Por seis vinténs eu ajudava
o limpador de chaminé.
Magros vinténs que ele me dava,
nem mais nem menos um tostão;
com aquele cobre eu só comprava
gim de cenoura e um agrião.
Não carecia faca ou garfo
nem guardanapo no pescoço
para comer meu agrião
e beber meu gim no almoço.
Você conhece algum rapaz
que andasse assim tão mal de vida,
sem carne ou osso na comida
e um gim de se chorar até?
Quem quer o limpa-chaminé,
velava eu pela cidade,
pobre e descalço em plena neve
que uma mulher teve piedade.
Pobre do limpa-chaminé,
mais sujo e negro do que o breu.
Ninguém me limpa a chaminé
des’ que o marido me morreu.
Venha limpar a chaminé,
Venha limpar a chaminé,
Disse corada de emoção,
Venha limpar-me a chaminé
E traga lá seu escovão.