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Posts Tagged ‘Dylan Thomas’

TRADUZIDOS POR IVO BARROSO

 

No Meu Ofício ou Arte Amarga

No meu ofício ou arte amarga

Que à noite tarda é exercido

Quando alucina só a lua

E dormem lassos os amantes

Com as dores todas entre os braços,

É que trabalho à luz cantante

Não pela glória ou pelo pão,

Desfile ou feira de fascínios

Por sobre palcos de marfim,

Mas pela paga mais afim

De seus secretos corações!

Não para alguém altivo à parte

Da lua irada é que eu escrevo

Os respingados destas páginas

Nem pelos mortos presumidos

Cheios de salmo e rouxinóis.

Mas para amantes cujos braços

Têm os cansaços das idades

Que não me dão louvor nem paga

Nem prezam meu ofício ou arte.

Diálogo de Rosie e do Capitão

ROSIE PROBERT (Suave)

Que mares pudeste ver,

Tom Cat, meu capitão,

Nos teus dias de marujo

Em tempos que lá se vão?

Que monstros marinhos moram

No oscilar das verdes ondas

Onde foste meu patrão?

CAPITÃO CAT

Pois em verdade te digo:

Locas latindo qual focas,

Ondas verdes, mares índigo,

Águas prenhes de lampreias,

De tritões e de baleias.

ROSIE PROBERT

Por que mares amaraste,

Velho Baleeiro, as velas

Em onda inchada de males

Entre S. Francisco e Gales

Quando ainda eras meu mestre?

CAPITÃO CAT

Tão certo quanto estou cá,

Teu Tom Cat minha amada,

Minha Rosie porto certo,

Meu conforto meu afeto,

Minha fiel namorada,

Mares verdes como vagens

Deslizando como cisnes

ao luar de focas latindo.

ROSIE PROBERT

Que mares que te embalaram

Meu grumete de convés

Meu marido preferido

Com tuas botas nos pés

E ânsias na tua fome

Meu benzinho baleeiro

Meu pãozinho meu papai

Meu formoso marinheiro

Tendo meu nome na pança

Quando eras quase criança

Num tempo que lá se vai?

CAPITÃO CAT

Não direi palavras chochas:

O único mar que eu via bem

Era o que havia no vai-e-vem

Que vai via as tuas coxas.

Quero que deites devagar

Deixes-me nele naufragar.

Canção de Mr. Waldo

Quando era moço, em Pembroke City,

de Castle Keep morava ao pé.

Por seis vinténs eu ajudava

o limpador de chaminé.

Magros vinténs que ele me dava,

nem mais nem menos um tostão;

com aquele cobre eu só comprava

gim de cenoura e um agrião.

Não carecia faca ou garfo

nem guardanapo no pescoço

para comer meu agrião

e beber meu gim no almoço.

Você conhece algum rapaz

que andasse assim tão mal de vida,

sem carne ou osso na comida

e um gim de se chorar até?

Quem quer o limpa-chaminé,

velava eu pela cidade,

pobre e descalço em plena neve

que uma mulher teve piedade.

Pobre do limpa-chaminé,

mais sujo e negro do que o breu.

Ninguém me limpa a chaminé

des’ que o marido me morreu.

Venha limpar a chaminé,

Venha limpar a chaminé,

Disse corada de emoção,

Venha limpar-me a chaminé

E traga lá seu escovão.

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