A FÁBULA DO GALO
Acontece, entretanto, que o meu galo
não fazia a manhã nascer do canto.
Sabia muito bem que
se cantasse
ou se deixasse de cantar
— o dia
rompendo as cercas do quintal
viria empoçar-se em seus olhos de suspeita.
(Cantava apenas para ser concorde.:.)
Em meio à noite, vinha-lhe de dentro
a sensação do amanhecer:
a crista
ensandecia de rumor do sangue;
as penas eriçavam-se no cio da soberba
e os olhos acompanhavam no frêmito da espera
o dia romper a casca da manhã,
finíssima.
Era quando lhe vinha da garganta
aquele anseio de ajudar o dia
e, na sofreguidão que o exasperava
— sabendo embora que cantasse
ou que deixasse de cantar —
cantava,
cantava todo trêmulo, intranquilo,
lançando o canto nos quintais da véspera
e ficava esperando pressuroso
o sol nascer das notas de seu canto.
O POÇO
Da borda ao bojo
do poço o balde
num baque oco
salta em
————pé
—————drado.
Baixa em balouço
busca a profunda
fonte fechada.
Grito de cacos
gotas de espelho
raios de escama
golpes de gelo.
Garganta larga
no escuro gole.
Peso nos olhos
tombo no peito.
Tão satisfeito
grave de encanto
tonto de espanto
pende pesado
lento rotundo
deita no fundo
a
—fogado.
Rija
a corda acorda
arde dardo dura dança
iça
—e começa
a lida de erguê-lo
a ele odre
a ele bambo
a ele bêbedo.
Bate ——nas
bor ——–das
brotam
bor bu lhas.
Ao peso pende
arreda a roda
retorna a ronda.
Chega (cego) à clara
borda à clara
——————bóia
onde bóia claro.
E cai de cara
contra o jarro
e jorra a água
de um só jato.
E já de borco
debruçado à borda
vago vazio
va ga ro so
—————v
—————o
—————l
—————t
—————a
Deixe um comentário