Há mais de 60 anos, no dia 24 de julho de 1955, o JORNAL DO POVO, de Ponte Nova-MG anunciava com destaque o aparecimento de uma nova seção intitulada “Os 3 Mosqueteiros”, “a cargo de quatro jovens esperanças do jornalismo mineiro” [sic]: Ivo Barroso (D’Artagnan), Albertus Marques (Athos), Arildo Salles Dória (Porthos) e Geraldo Marques (Aramis). Éramos todos amigos e funcionários do Banco do Brasil, dando o máximo de nossas energias e ânsia literária para o abrilhantamento do jornal interiorano que nos abrira suas portas. Conheci o Albertus (Athos) logo que cheguei ao Rio, em 1945, quando partilhamos a mesma carteira dupla do Colégio Vera Cruz, na rua São Francisco Xavier. O Arildo (Porthos) foi um pouco depois, quando nos mudamos para o Andaraí, já nos anos ’50. Ele morava numa casa de frente para a rua Maxwel, esquina da Pontes Correa, que era a minha rua. Sempre que passava por ali, o janelão aberto da casa da Dona Cora, deixava ver lá dentro uma rapaziada alegre, sempre cantando e dançando. Eram sobrinhos e sobrinhas da família capixaba que vinham conhecer o Rio. Arildo era o filho mais novo, tinha quatro outros irmãos, todos militares ou cursando o Colégio Militar. Ele, no entanto, era chegado às letras e logo nos demos bem, e um dia, ao passar pela rua, vi lá dentro, a Silvia, irmã da vizinha de Dona Cora, em cuja casa estava hospedada. Foi Arildo que nos apresentou e nos serviu de cupido, até o dia em que me casei com ela em 1956.
Durante quase dez anos escrevemos a página quádrupla Os Três Mosqueteiros, onde Arildo se destacava pelos seus artigos de ardoroso fundo político. Essa tendência foi se tornando militância com a adesão de Arildo ao Partido Comunista. Com o advento da Ditadura Militar, ele passou a ser constantemente procurado para investigações e depoimentos, e sempre se safava do pior (prisão e torturas) graças à interferência dos irmãos militares. O máximo que os censores conseguiram foi ameaçar sua carreira bancária, forçando o Banco a transferi-lo para o Piauí, como uma espécie de degredo onde passou três anos. De volta, foi transferido para Brasília, onde chegou a ser preso em 1972, quando já membro militante do PC, tentava reorganizar o partido. Definindo-se como um “apátrida” e um “torto” na vida, Arildo começou a trabalhar na Câmara dos Deputados em 1987, no gabinete do então deputado pelo PCB e ex- companheiro do Sindicato dos Bancários Augusto Carvalho, incumbido entre outras tarefas a de escrever praticamente todos os discursos dos deputados vermelhos e líderes sindicais. Fundou o movimento sindical Cidadania de que foi o presidente executivo. Suas preferências políticas nunca interferiram em nossa amizade: continuávamos a considerá-lo nosso “padrinho de casamento” e “amigo secular”. Era o primeiro a me telefonar no dia de meu aniversário e eu procurava fazer o mesmo a cada 2 de Janeiro, que era o seu. Pois o intrépido mosqueteiro Porthos, para o nosso pesar, o de seus amigos, familiares e sindicalistas baixou a espada no domingo passado, dia 23,vítima de complicações pulmonares com que vinha se debatendo (sic) havia algum tempo. Missão mais do que cumprida! Amigo até o fim!
Obituário: Albertus da Costa Marques, o Athos, faleceu em 2010, vítima de insuficiência renal (fazia diálise 3 vezes por semana) e o frágil Geraldo Marques, o Geraldinho. desapareceu total e definitivamente durante a Ditadura, perseguido por suas ideais esquerdistas (?) . Apagado dos anais do Banco do Brasil, todos os esforços para saber de seu destino foram inúteis, mesmo com auxílio do Comité da Verdade. Agora os três me deixaram aqui esgrimindo sozinho no ar da saudade e da lembrança.
Ivo, sempre muito bom ler suas “crônicas” aqui na Gaveta. agora, por exemplo, ficamos sabendo como conheceu a Silvia e a trajetória dos seus amigos mosqueteiros. obrigado por nos presentear com a sua sempre elegante. abraços do conterrâneo.
Mestre, uma pena! Arildo foi um grande mosqueteiro do Brasil. Recebera com muita alegria o nosso O Poeta, o Tradutor e o Crítico, do qual o Mestre Ivo Barroso é o grande brilho.
Sim, Luciano, ele me disse por telefone que estava feliz por haver recuperado aqueles artigos dos Mosqueteiros que marcaram o início de sua carreira jornalística e também política. Foi uma das poucas satisfações que lhe pudemos dar.
INB
Força, Ivo.
Um por todos e todos por um!! Grandes lembranças, Prof. Ivo!!