Também para os esdrúxulos vamos atacar em dose tripla. De todos os nomes anteriormente citados, sobraram cinco ainda sem cobertura: Othoniel Beleza, Pethion de Villar, Petrarca Maranhão, Pretextato da Silveira e Segundo Wanderley. Deixemos de lado o Pethion de Villar, cujo nome próprio (Egas Moniz Barreto de Aragão) era mais nobiliárquico do que o pseudônimo francelho que ele inventou. O Petrarca Maranhão foi selecionado para representar o Acre, na próxima antologia de poetas regionais que estamos preparando. Então vejamos os restantes: Othoniel Beleza, Pretextato da Silveira e Segundo Wanderley. Mas, antes mesmo, queremos nos desculpar junto aos leitores por não termos, até o momento, conseguido fotos confiáveis de dois dos poetas citados. Chegamos a levantar algumas hipóteses pesquisando no Google as imagens dos nomes buscados, mas concluímos (por ter havido algumas trocas) que a possibilidade de engano era grande demais e seria inconveniente apresentar uma pessoa por outra. Contamos com a colaboração dos leitores para o preenchimento dessa lacuna, bastando-nos a indicação de onde poderíamos conseguir tais fotos.
OTHONIEL BELEZA (1896-1928) – poeta maranhense (22)
O sobrenome do nosso poeta Othoniel Beleza não pode ser rigorosamente considerado esdrúxulo, termo que usamos aqui em suas várias gradações: curioso, raro, inusitado, etc. No caso dele, a variante menos apropriada seria “raro”, já que constatamos a existência de mais de duas centenas (contadas) de pessoas com o sobrenome Beleza, Belleza, Belesa, Beleuza no Facebook. Conseguimos saber a respeito do nosso antologiado que foi respeitável professor secundário no Estado de Minas e que havia até mesmo uma escola municipal com seu nome. Estamos tentando contatar pessoas da família para concluir nosso desiderato. A pergunta que sempre surge é se o Beleza era de fato sobrenome ou apenas pseudônimo. Desses três últimos, foi o único poeta de quem conseguimos livro (“Aljôfares”, 1944) na Estante Virtual.
LONGE DE TI
A tua ausência — que aborrecimento!
E, ao mesmo tempo, que necessidade!
Longe de ti, punge um pesar violento
E um brando anseio o coração me invade!
Se, ausente, mais seguras te apresento
Mil provas de constância e lealdade,
Volva o tempo assim mesmo lento-lento,
E amor assim se apure e nos agrade!…
Longe de ti, de outras mulheres perto,
De outras mulheres mil, núbeis e belas,
É que mais brilha esta afeição bendita.
Pois perto delas é que sinto, ao certo,
Que não palpita por nenhuma delas
O coração que só por ti palpita!
PRETEXTATO DA SILVEIRA (1896- ?) – poeta fluminense (23)
Pobre José Pretextato Alves da Silveira, dele não conseguimos sequer a data de seu falecimento! Sabemos apenas que era autodidata e foi funcionário dos Correios no Rio de Janeiro, onde nasceu. Consta que teria deixado inéditos três livros de versos e mais uma plaquete (1932) com quatro sonetos, o mais admirável dos quais transcrevemos abaixo:
DILEMA
“Quero morrer primeiro, um dia tu disseste,
Pois não suportarei a tua ausência!” E, ansiosos,
Ergueste para a azúlea abóbada celeste
Teus olhos a exorar por mim, meigos, piedosos!
Então, já comovido e de olhos lacrimosos,
Eu implorei ao Céu: “Senhor, tu que me deste
A vida e o seu carinho e os dias venturosos,
Consente que antes dela à sombra do cipreste
Eu vá dormir!” E assim ficamos abraçados
Pensando com terror que um dia a mão dos fados
O laço romperá deste amor verdadeiro!
E os nossos corações interrogando a sorte,
Sofriam! Qual de nós irá primeiro à morte,
A qual dos dois virá o martírio primeiro?
Adendo ao Pretextato.
Quanto ao extravagante prenome Pretextato surge uma dúvida: segundo o dicionário Aurélio, o termo significa o usuário da “toga branca, com barrado de cor púrpura, dos jovens de famílias patrícias e altos magistrados da Roma antiga”. Já outras fontes associam o nome a pretexto, definindo-o como desculpa ou subterfúgio atestado por escrito. Embora achemos o nome um tanto peregrino, acabamos por verificar não ser ele nada raro, dado que inúmeras pessoas assim chamadas estão em atividade no Facebook.
SEGUNDO WANDERLEY (1860-1909) – poeta norte-rio-grandense (24)
Já do nosso Wanderley temos alguns dados (inclusive a foto) fornecidos pela Fundação José Augusto, de Natal. Wanderley era médico e poeta condoreiro, ou seja fazia versos inspirados no tema da abolição da escravatura, “com fantásticos voos em construções grandiloquentes” à moda de Castro Alves. Quanto ao inusitado Segundo do nome, explica-se pelo fato de as famílias antigas assim designarem o segundo filho ou o filho subsequente com a morte de um primogênito ainda infante. Autor de sonetos de tema arrojado, como o que apresentamos abaixo para encerrar nossa galeria de esdrúxulos, estes versos despertaram celeuma quando de sua publicação nos jornais norte-rio-grandenses:
AMOR DE FILHA
Um pobre velho, não importa o nome,
Por um crime, talvez, crime de Estado,
Foi entregue à Justiça e condenado
À dura sorte de morrer de fome.
Mas rigores não há que amor não dome…
A visitar o pai encarcerado,
Pede a filha, e consegue, ao Magistrado
Que se condói da mágoa que a consome.
Volve um dia, mais outro e outro ainda,
Mas, apesar do bárbaro tormento,
Do delinqüente a vida não se finda…
Rasgo de amor que as almas maravilha:
— O pai hauria o seu estranho alento
Nos fartos seios da extremosa filha!
NOTA FINAL: Não pensem os leitores que esteja esgotado o elenco de poetas com nomes estranhos ou curiosos (que ousamos chamar aqui de esdrúxulos). Vejam esta pequena lista colhida por acaso ao pesquisar sobre poetas regionais (motivo de nossa próxima antologia): Caco Ishak, Francisco Perna, Leo Lynce, Px Silveira, Ursulino Leão, Ciro do Rosário Curado, etc. etc. etc.
Muito interessante a proposta da seleta!
Republicou isso em Poética de Botequim.
Prezado Ivo,
Agradecendo a homenagem feita aos esquecidos pala literatura brasileira; venho na condição de neto de José Pretextato Alves da Silveira, complementar algumas informações valiosas para esse site.
Meu avô nasceu em 19 de março de 1898 no Rio de Janeiro. Observe que essa data se refere a comemoração do Santo São José, razão do seu nome. Como curiosidade avivo sua ojeriza a qualquer contato com a Igreja católica, devido ser totalmente contrário a forma de administração da santa riqueza, à época, pelo Vaticano.
Sua morte se deu em 25 de agosto de 1972 aos 74 anos de vida. Outro fato não menos importante era sua adversidade ao militarismo por sua contínua intromissão nos assuntos que permeavam a liberdade do indivíduo.
O complementando ofereço foto para ilustrar como imagem o espaço destinado a sua referência.
Cordialmente,
Omar da Silveira Filho
Como faço para encaminhar a foto do Pretextato da Silveira?
Caro Omar,
a Gaveta agradece muito as suas excelentes informações; Por favor, encaminhe a foto seja diretamente para a Gaveta como você fez com essa mensagem, seja pelo meu e-mail que é : ivo.barroso@infolink.com.br.
Abraços,
Ivo Barrsosoi
Caro Omar,
por favor, envie-nos o retrato de seu avô, pois quero refazer a apresentação dele na Gaveta. Inclusive, se você tiver também alguma informação sobre o significado (ou origem) do nome Pretextato.
Abraços,
Ivo Barroso