Meu dileto amigo, o editor-tradutor Cláudio Giordano, presenteou-me com este magnífico volume, em que o assunto “vinho” é considerado praticamente sob todos os aspectos, com relevância para o concernente à arte do livro e a literatura. Nele o leitor ficará sabendo tudo sobre incunábulos, fac-similes, agricultura e botânica vinícolas, o vinho na religião e na medicina, obras de arte relativas ao vinho, o vinho do porto e finalmente a poesia do vinho. Nesta última seção, há um (para mim até então) desconhecido soneto de JORGE LUIS BORGES sobre o vinho, no texto espanhol original, cuja tradução transcrevo aqui em homenagem ao incansável editor Giordano, responsável pela beleza do livrinho Meu Rubaiyat, que editamos em 2017.
SONETO DO VINHO
Em que reino, em que século, sob que silenciosa
Conjugação dos astros, em que secreto dia
Que o mármor não salvou, surgiu a valiosa
E singular ideia de inventar a alegria.
Com outonos dourados o criaram. O vinho
Refluiu rubro ao longo de muitas gerações;
Como o rio do tempo em seu árduo caminho
Prodigou-nos a música, seu fogo e seus leões.
Na noite jubilosa ou na jornada adversa,
Ele exalta a alegria ou nos mitiga o espanto,
E o ditirambo novo que este dia lhe canto
Lhe foi cantado outrora pelo árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver a minha história
Como se esta já fosse a cinza da memória.
JORGE LUIS BORGES
*******************************************************************************
NOTA: NOSSA ANTOLOGIA POÉTICA VOLTARÁ À GAVETA COM TODO VAPOR E EM
DOSES TRIPLAS NA PRÓXIMA SEMANA
Eu tenho outras traduções do Borges no O Torso e o Gato.