OS POETAS ‘ESDRÚXULOS’
Em 15.03.2014 prometi aos leitores da Gaveta criar uma antologia poética para a divulgação de versos que, no meu tempo, eram considerados de “primeira linha”, e já na semana passada comecei a cumprir o prometido. Mas queria também divulgar o trabalho daqueles que poderíamos denominar “poetas esdrúxulos”, não pelo teor de suas composições, mas por causa dos nomes estranhos ou pseudônimos com que assinavam seus versos. Entre estes, arrolamos logo de saída, Judas Isgorogota, Sosígenes Costa, Euríclides Formiga, Cleômenes Campos, Junquilho Lourival, Emiliano Perneta, Otoniel Beleza, Pethion de Villar, Petrarca Maranhão, Pretextato da Silveira, Segundo Wanderley… Se Judas Isgorogota e Pethion de Villar eram evidentes pseudônimos, respectivamente de Agnelo Rodrigues de Melo, alagoano, e de Egas Muniz Barreto de Aragão, baiano, todos os outros – pasmem! — são nomes verdadeiros, Aliás, o Egas Moniz nem precisava daquele Pethion de Villar, pois seu próprio nome já soa como pseudônimo. Todos esses estranhos/esquecidos compuseram versos considerados “de primeira linha” em seu tempo e figuram em várias antologias e florilégios até hoje. Quanto aos temas, eram em geral versos de amor, de conquista ou de saudade, vez por outra apelando para uma filosofia ingênua. Mas há o caso daquele Segundo Wanderley (1860-1909), poeta abolicionista norte-rio-grandense, que escreveu um incrível soneto intitulado “Amor de Filha”, dedicado a Pedro Avelino (?), personagem que deu nome a uma cidade do Rio Grande do Norte, mas sobre o qual ainda não consegui nenhum dado. Voltaremos a ele no futuro.
Vamos começar nossa antologia dos poetas “esquisitos” com
JUDAS ISGOROGOTA (1901-1979) – poeta alagoano
Chamava-se Agnelo Rodrigues de Melo e adotou o pseudônimo nas seguintes circunstâncias, conforme consta de uma entrevista: Autor de versos humorísticos numa revista em que desancava todo mundo, principalmente seus desafetos, resolveu adotar um nome literário para se livrar das represálias. “Judas”, na tragédia bíblica, simboliza o “homem possível”, da mesma maneira que Jesus representa o “homem perfeito”. Judas bem poderia servir de nome de guerra para um poeta que queria “judiar” com as pessoas. Assinei, por isso, Judas Isgorogota. O Isgorogota nada mais é do que simples corruptela de “Iscariotes”.
(Judas Iscariotes, como se sabe, era o nome do discípulo que traiu Jesus Cristo; Cariotes o de sua cidade natal). Conceituadíssimo como poeta e escritor no meio literário da capital paulista onde vivia, Agnelo Rodrigues teve vários livros publicados e seus versos traduzidos para mais de oito línguas.
DIVINA MENTIRA
Pobrezinha da mãe que teve um filho poeta
E o viu cedo partir para as bandas do mar…
Nunca mais que ele volte à mansão predileta,
Nunca mais que ela deixe, um dia, de chorar…
É como a água de um lago, inteiramente quieta,
A alma de toda mãe que vive a meditar:
O mais leve sussurro é-lhe um toque de seta,
A mais leve impressão basta para a assustar…
Eu, por sabê-la assim, quando lhe escrevo, digo:
“– Minha querida mãe, não se aflija comigo.
Eu vou passando bem… Jesus vela por mim…”
É que assim, ela – a humana expressão da bondade –
Contente por saber que vou sem novidade
Jamais há de pensar que eu vá mentir-lhe assim…
CAROS LEITORES
Esta antologia é um velho projeto meu e gostaria que vocês participassem dele. Mas posso estar enganado quanto ao interesse que ela possa despertar em vocês, meus leitores, principalmente entre os jovens, se é que os tenho.
Preciso saber claramente se esta seção (que seria permanente) lhes despertou interesse, se devo continuar publicando aqui os versos que me entusiasmaram no passado, ou se o que era “primeira linha” para mim já não faz sentido para vocês.
Por favor, deixem uma nota, curta que seja, um sim ou não já basta, mas não posso ficar na dúvida.
IVO BARROSO
Caro Ivo,
é um projeto maravilhoso. Desses nomes dos poetas, poucos retenho na memória. Será um enorme prazer reencontrar os conhecidos e conhecer os novos.
Gratíssimo,
Wagner Schadeck
boa iniciativa Ivo.tentei postar um comentário lá mas não deu certo.espero que continue com essa antologia.abraços, Milton
Olá Ivo, sou leitor já há um tempo da Gaveta e estou gostando dessa antologia dos poetas de primeira linha. Acho que seria muito produtivo continuar as publicações.
Tendo a concordar com o que tu disse na tua postagem anterior, de que aos jovens poetas de hoje falta uma boa leitura dos clássicos. Mas talvez isso seja verdade a todas gerações. Se serve de consolo, saiba que eu, nascido em meados dos anos 90, estou aqui lendo e apreciando tuas sugestões. Abraço.
A ideia é bem interessante.
Olá!
Gostei muito da ideia! Espero que continue!
Caríssimo Poeta Ivo Barroso,
Vejo pelo menos três razões de plena justificativa à antologia: 1. Essa fabulosa experiência de vida, longa vida, de Ivo Barroso nas artes, na literatura, tradução, no Brasil e por aí afora; 2. O enorme acervo bibliográfico de Ivo Barroso servindo de fonte e repertório; 3. A perspicácia única de Ivo Barroso pinçando com inteligência e camaradagem o melhor de cada pesquisado.
Que venha a antologia!
Garoeiro
Sr. Ivo,
Com certeza, gostaríamos que alguém com o seu conhecimento de poesia brasileira devolvesse à luz poemas engolidos pelo Tempo. Muitas vezes, ótimos poemas se perdem quando seus autores não produziram uma obra vasta nem participaram de movimentos literários organizados.
Abraço,
João Renato.
Magistral, esse projeto concebido por você é importante na medida em que revela a desconhecida poesia dos rincões desses Brasis, e só com sua competência é que vem a luz os poetas que esquecemos e os que não conhecemos, valeu, valeu mesmo, espero que continue, abraços, Vicente.
Como é bom vê-lo de volta e com novidade! Nossa, basta a lista de nomes dos esdrúxulos pra ver que são, mesmo esdrúxulos. É verdade que a gente desanima um tanto, ao ver quanta gente por um tempo brilhou e está, agora, apagado. Mas essa sua antologia vai lhes fazer justiça. Grande abraço, imenso Ivo!!!
Acabei de descobrir seu blog, graças ao “não gosto de plágio”, e estou amando! Por favor, sim!, interessada interessadíssima!!!
Por favor, caro Ivo!
Sua seleção é sempre especial, um privilégio para nós, leitores. Ouvia meu pai declamar Judas Isgorogota e gostava, desde o princípio.
[…] Divina mentira 21.02.18 aqui […]