Cronologicamente, a Gaveta estaria completando hoje sete anos de publicação. Sete anos! Sete, número cabalístico. Deus criou o mundo em sete dias. Sete são os pecados capitais. Sete os dias da semana. Sete as maravilhas do mundo. Sete os sábios da Grécia. As virtudes humanas. São sete as propriedades da matéria. Sete as notas da escala diatônica. As sete cores do arco-íris. Os sete braços da menorah. E eram sete os anões da Branca de Neve. Se quisermos prosseguir, podemos entrar no campo das expressões em que aparece a palavra sete, como pintar o sete, botas de sete léguas, cova de sete palmos. Nem vale a pena apelar para o setestrelo, pois são poucos os dicionários que o consignam.
Como o Senhor descansou no sétimo dia, seria o caso de achar que já trabalhamos o suficiente, que nossa missão pode ser dada por cumprida… Dar adeus aos nossos queridos leitores… Mas, não, vamos comemorar este sétimo aniversário apenas fechando a gaveta por sete semanas; isto, não se assustem, sete semanas, pouco mais que um mês e meio de merecidas férias e logo voltaremos quem sabe até com fôlego de sete gatos.
Brincadeira à parte, despedimo-nos hoje dos leitores com – para nós — a definitiva consagração do número sete em literatura: este imortal soneto de Camões, uma joia literária perfeita, da qual nada se pode tirar nem acrescentar:
Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe deu a Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
assim lhe era negada a sua pastora,
como se não a tivera merecida,
começou a servir outros sete anos,
dizendo: Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida!
Que susto! Achei que o senhor não ia mais publicar na Gaveta.
Quando li a Bíblia pela primeira vez, internada num colégio de freiras, li com a curiosidade de uma criança que adorava ler e ouvir histórias. E a história de Jacó e seu grande amor por Raquel me fez pensar que talvez eu fosse especial. Talvez… os castigos das freiras nunca me deixaram crer cegamente.
Parabéns!
Que o Poeta desta vigorosa Gaveta pinte o sete, mas não nos abandone…
Férias. Deve estar na Europa, neste momento. E eu aqui, em João Pessoa, revisando, mais uma vez, meus dois originais que, pelo jeito, jamais vou entregar à luz. Divirta-se… e descanse, Ivo. Acho que pouca gente merece tanto quanto você.
Solha, caríssimo,
agradeço o wishful thinking amigável, mas a verdade é que já não saio de casa há mais de dois anos. Adeus viagens, adeus pousadas de luxo, adeus hotéis de charme! Todo o meu preparo econômico para usufruir a vida airada no futuro acabou em prisão domiciliar dadas as circunstâncias… Mas não me queixo (muito): ainda tenho amigos que me escrevem e meu blog em que escrevo.
Abraços gratos,
Ivo
Caríssimo Ivo Barroso,
Muito boa mesmo, a notícia de que a nossa querida Gaveta será brevemente reaberta! Vai ser uma alegria geral, com certeza.
Obrigado, desde já…