UM SONETO DE FRAY LUIS DE LEÓN TRADUZIDO
por Ivo Barroso
PÃO E DEUS – Fray Luis de León
Se pão é o que vemos, como dura
Sem que ao comê-lo todo não se acabe?
Se Deus, por que o gosto a pão nos sabe
Como se só de pão tem a figura?
Se pão, por que adorá-lo a criatura?
Se Deus, porque em tão pouco espaço cabe?
Se pão, porque a ciência assim não sabe?
Se Deus, como comer sua feitura?
Se pão, porque nos farta com tão pouco?
Se Deus, como é que pode ser partido?
Se pão, por que em noss’alma mexe tanto?
Se Deus, como é que o vejo e nele toco?
Se pão, como dos céus ei-lo descido?
Se Deus, como não morro então de espanto?
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O significado de Corpus Christi
“Eucaristia” é uma palavra grega que significa “dar graças” ou “agradecer”. Esta palavra ganhou um significado novo e profundo quando os cristãos passaram a chamar de “Eucaristia” a Última Ceia celebrada por Jesus. Isto aconteceu porque nesta ceia Jesus “deu graças a Deus” e se entregou total e gratuitamente por amor à humanidade.
Na Ceia Eucarística Jesus transformou o pão e o vinho em seu corpo e seu sangue dizendo: “Isto é o meu corpo… Isto é o meu sangue.” Além disso, ele deu aos apóstolos o poder de perpetuarem este milagre dizendo: “Fazei isto em memória de mim.” Por isso, a Eucaristia tornou-se “sacramento”, isto é, um meio pelo qual Deus se faz real e eficazmente presente entre nós.
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- FRAY LUIS DE LEÓN (Belmonte, Espanha, 1527 – Madrigal de las Altas Torres, id, 1591), escritor espanhol em castelhano e línguas latinas. De ascendência judaica, desde a sua juventude, professou na ordem agostiniana. Foi um grande humanista de espírito cristão e grande conhecedor dos clássicos latinos. Ressaltou, acima de tudo sua consciência estilística, tão rigorosa quanto em sua prosa; na poesia demonstra domínio do ritmo e do tom. Seguiu as inovações métricas introduzidas por Boscán e Garcilaso , mas decidiu-se exclusivamente pela lírica, com uma expressão poética de grande perfeição formal e força expressiva, simplicidade exemplar. (Google)
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Caro Ivo Barroso
Interessante ler um poeta tão antigo. Mas, nesse poema específico, ele usa de um truque, ao trocar uma linha de divino pelo mundano. Me lembra o belíssimo poema do Bilac, que usa esse mesmo truque, mas, na mão de um mestre, ficou divino: Cheguei, chegaste / Vinhas fatigada e triste, fatigado e triste eu vinha/ Tinhas a alma de sonhos povoada e a alma de sonhos povoada eu tinha…Divino!
Te desejo um maravilhoso Corpus Christi!
Belo soneto, Ivo. É maravilhoso ver o desenvolvimento de considerações a respeito de um objeto, acho que de todos os pontos de vista possíveis. Para maior delícia de seus leitores, aqui vai o original, embora com título diferente.
PREGUNTAS DE AMOR
Si pan es lo que vemos, ¿cómo dura,
sin que comiendo dél se nos acabe?
Si Dios, ¿cómo en el gusto a pan nos sabe?
¿Cómo de sólo pan tiene figura?
Si pan, ¿cómo le adora la criatura?
Si Dios, ¿cómo en tan chico espacio cabe?
Si pan, ¿cómo por ciencia no sabe?
Si Dios, ¿cómo le come su hechura?
Si pan, ¿cómo nos harta siendo poco?
Si Dios, ¿cómo puede ser partido?
Si pan, ¿cómo en el alma hace tanto?
Si Dios, ¿cómo le miro y le toco?
Si pan, ¿cómo del cielo ha descendido?
Si Dios, ¿cómo no muero yo de espanto?
maravilha de soneto amigo fray Luis de Leon