(mais uma historinha só para divertir)
Seu Carlino era viúvo, não tinha filhos e criava galinhas no pequeno quintal, onde havia um casebre que a mãe, ao morrer, lhe deixara. Religioso de coração e alma, não saía da igreja, e confessava pelo menos uma vez por dia. Monsenhor, o vigário, não cansava de dizer: “Ó Carlino, isto não é pecado.Vai cuidar de suas galinhas!” Elas eram sua fonte de renda, pois, com a venda de ovos e, de quando em quando, de uns frangos da ninhada, é que o pobre ia levando a vida.
Num domingo, resolveu abrir-se no confessionário: “Seu Padre, vou me suicidar!” e, ante o espanto do vigário, se justificava: “Estou velho e só penso em morrer para entrar no paraíso e estar à direita de Deus Padre! Sou um homem de bem, não tenho pecados e decerto irei para o céu”.
Seu Padre advertia: “Não seja louco, homem. A religião é contrária ao suicídio. Se você se matar, vai é para o inferno. Tira isso da cabeça e reze vinte ave-marias por penitência deste grave pecado”.
Carlino se resignava, mas a ideia não lhe saía da cabeça: trocar a existência inútil que levava para usufruir a bem-aventurança da vida eterna. Tudo se resolveria com um acidente, uma facada no peito ou um trago de veneno. Deus não podia ser injusto com ele, estava cansado da vida, queria o descanso dos céus. Certamente a religião estava errada em não admitir o suicídio.
Um dia, decidiu-se: “Seu Padre, vai ser hoje. Olha aqui: até já comprei a lata de formicida: uma boa dose e logo estarei na presença de Deus”!
Monsenhor tentou arrancar-lhe da mão a lata do veneno. Como Carlino resistisse, o padre teve um arroubo de fúria e lhe gritou:
“Seu Carlino, não seja idiota. Não vê que essa história de céu não existe, que a gente morre e acabou?! Que tudo não passa de uma invenção da Igreja para manter a fé? Reino de Deus, vida eterna, recompensa dos céus, tudo isto é bobagem, patranha para iludir os crentes. Depois da formicida o que virá é a cova rasa e a podridão. Larga essa lata!”
Carlino estava estarrecido. Nunca ouvira tal imprecação da boca de Monsenhor, que em suas prédicas dominicais, sempre exaltava a glória do Senhor, a ressurreição da carne, a vida eterna, amém. Diante da expressão firme e dura do padre, ainda titubeou: “O senhor está falando sério? É tudo mentira?” “Tudo, tudo. Se vivo dizendo o contrário é que sei que não existe o Inferno para onde eu iria por ter jurando em falso”.
Carlino entregou a lata ao padre, olhando para ele profundamente consternado: o homem devia estar fora de si, que Deus o perdoe! E saiu da igreja cabisbaixo, atarantado. Na dúvida, foi tratar de suas galinhas.
Monsenhor, refeito da convulsão, olhou para o altar: “Perdão, Senhor! Mas foi a única maneira de salvar a vida desse miserável”!
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