CONTEMPLAÇÃO DA CHUVA
Já fui poeta e escrevi versos de amor.
Hoje contemplo a chuva e espero a chegada do correio.
É certo que os anos alteram muitas coisas,
Mas não é só a idade, a desgastar o exterior;
Algo mais fundo nos envelhece também a alma
Que contempla o vazio e não espera a salvação.
Acreditei em deuses, pensei que escrever
Fosse a minha aventura, meu barco embriagado,
Mas a viagem de volta era sempre consciente
De que não existe um destino a perseguir.
Devia ter um saldo positivo qualquer,
Um livro de versos, momentos de evidência,
O desfrute de paragens e de mesas estreladas,
Mas só tenho ressentimentos e lembranças tristes.
Não poder simular uma mensagem de esperança
Mesmo sabendo que a chuva irá passar,
Que talvez amanhã chegue uma carta do correio.
Caríssimo Poeta Ivo Barroso,
Que belo poema!
Ver a chuva, à espera de algum correio, é vida! Verdadeira vida!
Justo, em 4 de dezembro de 2015, quando fiz 69 anos de idade!
Comentei, outro dia, com um amigo, que em 1946, eu,com alguns meses de vida, e Ivo Barroso já publicara seu soberbo soneto: “O Pássaro Cego”!
Poeta: não segure o rio, não amarre a veia, não evite esta pulsante sedução da Beleza: escreva!
Insista! Resista! Persevere!
Nós, que o queremos tão bem, precisamos ver esta “Gaveta” aberta, bem cheia, derramando essa suavidade trágica sobre a enorme secura dos tempos de agora…
Obrigado!
Garoeiro
Caro Amigo,
incentivos como o seu é que me têm levado a escrever, pois vejo que alguém mais se interessa ´pelo que escrevo. Logo tenho uma missão!
Muito grato e abraços,
Ivo Barroso
Sim, sempre esperamos uma carta. Belíssimo poema.